Em entrevista exclusiva para o Eco Curitiba, o presidente da Câmara de Vereadores de Curitiba fala sobre o atual momento do legislativo curitibano: “É hora de substituir o eu por nós”
Aos 52 anos e iniciando seu sétimo mandato como vereador na Câmara Municipal de Curitiba, o advogado Paulo Salamuni assumiu uma importante missão: comandar o poder legislativo da cidade após uma enxurrada de denúncias e polêmicas, como o escândalo dos contratos de publicidade que culminou na cassação então presidente e vereador João Claudio Derosso.
Salamuni assume a presidência da Câmara depois de seis mandados sem nunca ter participado da mesa diretiva da casa. Procurador de carreira do município, Salamuni acredita que a nova tarefa dentro do legislativo será uma experiência diferente. “Politicamente falando, é uma grande responsabilidade cuidar da Câmara, que tem uma postura independente dos demais poderes”.
Com uma vida pública transparente, Salamuni acredita que isso será um fator positivo para restabelecer a confiança e a credibilidade da Câmara Municipal de Curitiba depois dos episódios que o político classifica como “lamentáveis”. “Este escândalo envolveu políticos, servidores, terceirizados e até outras pessoas dentro da casa”. Como a renovação de mais da metade dos vereadores da casa nas últimas eleições, Salamuni conseguiu chegar a presidência com a tarefa de reorganizar a rotina e a transparência do legislativo da cidade.
Salamuni recebeu com exclusividade a reportagem do Eco Curitiba no gabinete da presidência para uma entrevista e falou sobre os projetos deste ano para a Câmara. Confira:
Eco Curitiba: Qual é sua principal meta como Presidente da Câmara?
Paulo Salamuni: É preciso resgatar a transparência e a confiança da população a respeito do Poder Legislativo, porque a Câmara é propriedade do povo, é uma casa plural, não pertence a uma família, uma ideologia. Nós queremos permitir que o cidadão participe da Câmara e, para isso, vamos escancarar a transparência. A cidade tem uma nova constituição desde 2012, com a nova Lei Orgânica, que eu fui o relator. Já conseguimos avanços como a maior participação popular por meio das audiências públicas, numa tentativa de descentralizar a Câmara. Esses primeiros três meses tem sido uma experiência interessante. Sei do tamanho da minha responsabilidade.
Eco Curitiba: Após os escândalos divulgados no ano passado, quais foram as principais mudanças internas?
Paulo Salamuni: Nos dois primeiros meses, foram 246 cargos de comissão exonerados. Foram quase 50% dos cargos comissionados. Esses cortes geraram uma economia de mais de R$ 3,8 milhões para os cofres públicos. Foram cargos nos gabinetes dos vereadores, das comissões, dos setores administrativos. Tínhamos funcionários com mais de 25 anos na mesma função e exoneramos. Foram pessoas que tiveram alguma participação nesse escândalo dos contratos de publicidade, colaborando, sendo coniventes.
Nós colaboramos com a apuração dos fatos junto com o Tribunal de Contas e o Ministério Público e os contratos de publicidades foram sepultados. Não há mais verbas para programas de rádio dos vereadores e para proletismo pessoal, que já deveria não existir. Estamos fazendo um planejamento estratégico para avaliar se, sem esses funcionários exonerados, o trabalho foi prejudicado. Foi um enxugamento drástico e repentino. Estamos analisando se esses cargos comissionados podem ser suprimidos com cargos efetivos. Temos 448 cargos efetivos, mas apenas 261 estão sendo utilizados. Há a necessidade de se fazer um concurso público para as áreas administrativas, para a comunicação. Mas será analisado com calma, se essas vagas podem ser ocupadas com um concurso público.
Eco Curitiba: O projeto de um novo espaço para a Câmara ainda existe?
Paulo Salamuni: Curitiba merece uma sede adequada para o Poder Legislativo. Hoje são vários prédios antigos e pequenos. Quase um puxadinho atrás do outro. O que foi concluído no ano passado foi a reforma civil do Palácio Rio Branco, o prédio histórico. Foi executado um trabalho de engenharia para recuperação do prédio em si, pois era um prédio muito antigo. Provavelmente, as sessões deverão voltar para o Palácio Rio Branco até julho. Mas nossa idéia é preservar o prédio como patrimônio histórico e cultural da cidade, para exposições, lançamento de livros. É um dos cinco prédios mais bonitos da cidade, com toda a história da Câmara. Enquanto não surge a nova sede da Câmara, com condições melhores de trabalho e de controle de presença dos vereadores e de todos os colaboradores da Casa, nós vamos nos adaptando nas atuais instalações, buscando melhores condições para os cargos administrativos e parlamentares. Existe algumas idéias e projetos de levar a Câmara para o Centro Cívico, perto dos demais poderes, ou aqui no local atual, com a construção de um complexo maior.
Eco Curitiba: Novo presidente e mais de 50% dos vereadores são novos na Casa. Como está o ambiente da Nova Câmara de Curitiba?
Paulo Salamuni: O ambiente político mudou. 50% dos vereadores não foram reeleitos. E os novos vereadores, que ocuparam essas vagas daquele que jamais imaginaram que poderiam sair, energizaram e arejaram a Casa. Os vereadores não reeleitos estavam falando uma língua aqui dentro da Câmara e o povo do outro lado da rua estava falando outra. Participaram de uma situação insustentável e o castigo veio nas urnas. Esses novos vereadores tiram os vícios da Casa, junto com aqueles que se reelegeram. É a experiência daqueles que viram de perto o episódio lamentável do ano passado e voltaram, com o sangue novo dos recém-eleitos. Há uma maior participação, aumento do coro, de presença. Há uma vontade de acertar. E eu estou feliz em representar esse grupo.
Eco Curitiba: As eleições foram uma clara demonstração de que os eleitores não estavam contentes com o que estava acontecendo na Câmara. O povo está mais atento ao que acontece no legislativo?
Paulo Salamuni: A Câmara está nas mãos do povo. O povo está se sentindo representado. Isso aumenta a responsabilidade, principalmente a minha como presidente, para não decepcioná-los. Estamos com vontade de acertar e esse novo clima da nova Câmara é uma mudança significativa. Nosso principal desafio para 2013 é corresponder as expectativas, dar respostas coerentes e concretas. Essa é a nossa maior preocupação. Eu sinto muita esperança e isso aumenta enormemente a cada dia. Espero retribuir cada gesto da população.
Eco Curitiba: O que a população pode esperar dessa nova Câmara?
Paulo Salamuni: Uma Câmara diferente, autêntica, aberta a participação popular. Uma postura de pessoas iguais a elas, que não vão se deixar vencer pelo sistema, que vão resistir, que vão fazer as coisas abertamente. A população espera por respostas e vão ter.
Eco Curitiba: Falando agora como vereador: Foram mais de seis mil votos. Quais seus principais projetos para este ano?
Paulo Salamuni: O tempo foi passando e vamos ficando mais conhecidos, as pessoas podem julgar nosso trabalho, conhecer. Foi uma campanha difícil, com dificuldades de recursos, uma campanha independente. Contei com o apoio da população. Participei, nesse lastimável episódio dos contratos de publicidade, como relator da CPI (Comissão Permanente de Inquérito), participei da elaboração do relatório paralelo que serviu de base para o Tribunal de Contas e para o Ministério Público. Sou servidor público, procurador de carreira. E chegar a chefia de um poder aumenta minha responsabilidade, mas me dá energia. Meu foco agora é ajudar o novo prefeito a continuar colocando a cidade em dia e conseguir governar efetivamente, aproximando a sociedade civil e representá-la. Fui o relator do regimento interno da Câmara. Estamos elaborando novas comissões. Estou animado e energizado para levar esta Casa para o lugar que ela merece ser levado. Faço isso apaixonadamente. Tenho vários projetos na área social e ambiental, mas nesse momento, a responsabilidade é conduzir o parlamento. O todo é mais importante. Os projetos pessoais ficam de lado. É hora de substituir o eu por nós.
Eco Curitiba: Um recado para os leitores do Eco Curitiba:
Paulo Salamuni: Este é um novo momento da cidade de Curitiba. Temos um prefeito que nasceu em Curitiba, que conhece a cidade. O pai de Gustavo Fruet (Maurício Fruet) abriu as portas da prefeitura para a população, para o povo mais humilde. Foi o precursor das primeiras audiências públicas, era popular. E Gustavo acompanhou isso, foi vereador, o que é uma honra e muita responsabilidade para quem mora aqui: servir sua cidade. Depois de vereador, foi deputado, se preparou, fez Mestrado em Gestão Pública, conhece a cidade porque mora aqui. O que tínhamos era síndico de massa falida, que não sabia apagar o primeiro incêndio. Estamos tentando fazer diferente para os curitibanos. Se não for diferente, não vale a pena. É o resgate da credibilidade, da confiança do curitibano na Câmara. O povo de Curitiba terá orgulho da Câmara de Vereadores.
))) Franciele Lima