Ao padroeiro Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos os garimpeiros que desbravavam a Chapada Diamantina, no coração da Bahia, pediam proteção e sorte para encontrar uma pedra que mudasse suas vidas. Fosse pepita de ouro ou diamante do tamanho de um olho. Hoje, após o fim do garimpo, a região ainda recebe exploradores interessados em suas riquezas naturais. Só que com outros objetivos.
No lugar das pedras, são as obras de arte naturais que despertam a cobiça dos turistas. Que tiram, de tesouros como Morro do Pai Inácio, Cachoeira da Fumaça, rios, grutas e estalactites, nada além de belas fotos.
Por sua extensão gigantesca – são mais de 30 mil quilômetros quadrados, área equivalente à da Bélgica – a Chapada Diamantina até hoje não foi completamente desvendada. Some a essa imensidão de formações geológicas raras o conhecimento dos antigos caçadores de riquezas e dos qualificados guias locais. E fica fácil entender que a região é uma espécie de Disneylândia do ecoturismo nacional. Com imenso potencial de revelar novos encantos.
Para melhorar, o destino não tem baixa estação. A época seca (abril a outubro) é ideal para caminhar pelas trilhas e ver os famosos raios de luz atravessarem fendas na pedra para iluminar os Poços Azul e Encantado; a das chuvas (novembro a março) garante cenário verde exuberante e a melhor performance de cachoeiras como a da Fumaça, com seus 340 metros.
Criado em 1985 para proteger parte da região da ameaça do garimpo, o Parque Nacional da Chapada Diamantina ocupa menos de 5% da área total, com 1.250 quilômetros quadrados. Em seu território está apenas parte de tudo o que o visitante pode descobrir. Outros atrativos ficam em propriedades particulares, áreas de proteção ambiental e parques municipais.
Faz pouco mais que isso que começou a exploração turística da região e, mesmo assim, não é raro surgirem novos roteiros. A Cachoeira do Buracão ganhou destaque no início dos anos 2000 e colocou no mapa a pacata Ibicoara. Duas das mais recentes revelações, as Cachoeiras Encantada e da Fumacinha – queda de quase 200 metros num paredão estreito – dão mais provas dessa fartura. Que se esparrama por 24 municípios (Lençóis, Andaraí, Mucugê e Palmeiras, além do distrito de Capão, são os principais) acessíveis, em sua maioria, pelas rodovias BR-242 e BA-142, ambas em boas condições.
Pela proximidade com o aeroporto e as atrações clássicas, como Morro do Pai Inácio e Grutas Lapa Doce e Pratinha, Lençóis costuma ser o ponto de partida. Está lá a melhor infraestrutura de hospedagem, restaurantes e serviços. Com a vastidão de possibilidades e distâncias entre os pontos principais, o tempo costuma ser fator determinante nos roteiros pela região. Um bom planejamento faz toda a diferença e, muitas vezes, os pacotes turísticos compensam. Caso queira fazer roteiros específicos ou dedicar mais tempo a determinadas atrações tente, ao menos, viajar em grupo: na Chapada Diamantina, ir sozinho pode, sim, ser sinônimo de custo mais alto.
As jazidas de diamantes que batizaram a região foram achados mais de 100 anos depois, em 1845, nos Rios Mucugê e Lençóis. A exploração dos brilhantes contribuiu para a construção da cidade de Lençóis, que chegou a ser conhecida como Vila Rica da Bahia. Isso até que, a partir de 1871, a extração de pedras de altíssima qualidade na África do Sul a preços mais baixos que os brasileiros levou esta região da Bahia – e também a de Diamantina, em Minas – ao colapso econômico.
Hoje, as principais fontes de renda por lá são a produção de hortifrútis nos arredores de Mucugê e de café no Vale do Capão e em Ibicoara. Diante da quantidade de belezas espalhadas, não será de estranhar se os visitantes se tornarem cada vez mais importantes para a economia da região. Se depender das preces ao padroeiro, a procura está garantida.
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