Madri é uma das maiores capitais da Europa, moderna e cheia de possibilidades para seus visitantes, mas sem abandonar a aura tradicional, cultural e histórica de mais de dez séculos de existência. ‘Fui construída sobre a água, minhas muralhas de fogo são: esta é minha fachada e meu brasão’, canta o lema da cidade em suas origens. E tal como a descreve, Madri é um lugar de paradoxos, onde o passado milenar encontra o futuro ainda por nascer, onde a gentileza de quem luta pelo cotidiano divide palco com o caráter duro de gente que já passou por guerras sangrentas, onde a cultura tradicional convive com novas tribos e se renova.
Madri foi a primeira cidade que conheci fora do Brasil. Foi caminhando pelas ruas da cidade que me apaixonei por ela. Tão kitsch quanto a mistura de gêneros artísticos que compõem a arquitetura local foi boquiabrir-me, sentando à mesa de um bar em plena Plaza Mayor, fincada ali desde o século 15, com pensamentos inimaginados, cálculos mentais de datas comparadas, coisas do provincianismo de quem saiu do interior de Goiás, cuja cidade mais antiga tem pouco mais de 300 anos. E como se estivera me relacionando com Madri no toque dos meus pés em seus ladrilhos, lembro-me até do desejo que fiz quando pulei as três vezes sobre o quilômetro zero na Puerta del Sol, centro efervescente da cidade, encontro das Calles Mayor, de Alcalá, de Arenal e de la Montera, repleto de cafés, restaurantes e comércios centenários.
Seja tapeando jamón serrano (presunto feito de forma artesanal) num dos bares da cidade, seja sentado no banco da Catedral de Almudena, entre as estátuas da Plaza de Oriente ou na porta do Teatro Español, numa apresentação de flamenco ou de zarzuela, sente-se a alma das pedras, a vida das paredes, a voz da história. Barroco, surrealista ou cubista, é natural respirar arte clássica, moderna, contemporânea. No Museo del Prado, uma das maiores coleções de arte renascentista da Europa, a beleza estética do humano me serviu para, já no Museo Reina Sofia, reconhecer a força poética do desumano de uma guerra civil no célebre ‘Guernica’, de Picasso.
E da mesma forma que Nova York está para Woody Allen e Roma está para Federico Fellini, viver o cotidiano de Madri é como estar numa sequência de uma das obras de Pedro Almodóvar. Basta ir ao bar Villa Rosa, por exemplo, na Plaza Santa Ana, para se imaginar no enredo do filme ‘De Salto Alto’, ou ao Museo del Jamón para ver-se em ‘Carne Trémula’. Ou talvez, caso você queira viver seu próprio filme, independentemente de suas opções de vida, vá a Chueca sem receios.
O importante mesmo – e isso é Madri em suas raízes – é a sofisticação da simplicidade: praças, ruas, museus, igrejas, prédios, arquitetura, arte, comida, dança, festas, montanhas, peregrinação, religiosidade que compõem, diante dos olhos encantados do turista, o discreto, mas sensível, charme da nostalgia de um povo e, ainda mais bonito, em tempos de tão pouca delicadeza sentimental, também da nossa.
Madri é uma cidade de grandes dimensões, mas com a vantagem de que a maior parte dos monumentos, museus e pontos de interesse estejam concentrados no centro da cidade. A Puerta del Sol é o coração fervilhante da cidade, um bom ponto de partida de onde você pode, via metrô, ônibus ou de preferência a pé, visitar grande parte das atrações, seja em que direção for.
Entre os bairros, o Lavapiés é uma mistura de nacionalidades, e o La Latina é animado não somente à noite, mas também durante as manhãs de domingo, quando acontece o famoso mercado de pulgas El Rastro.
Ao norte da Gran Via estão os bairros Chueca e Malasaña, mistura interessante de acomodação barata, restaurantes, bares, comércio alternativo, apartamentos residenciais, reduto gay e vida noturna que segue até o dia.
Visitar Madri a pé não só é possível como recomendável – mas os longos quarteirões pedem fôlego. O metrô funciona entre 6h30 à 1h30. Já os ônibus circulam das 6h às 23h30; depois desse horário começam a circular de hora em hora os ônibus Búho (palavra que significa Coruja, em espanhol) entre às 23h30 e às 05h30. Existem diferentes tipos de tarifas para o transporte público de Madri. O Madrid Card, além de facilitar o uso ilimitado do ônibus turístico Madrid Visión (bom para dar uma geral intensiva na cidade), inclui o acesso aos principais museus da cidade e descontos em comércio, centros de lazer, espetáculos e restaurantes.
Fotos: Divulgação.