O maior tesouro de Ilhabela está ao alcance de todos. Percorrendo o litoral recortado, são nada menos que 40 praias e centenas (você leu certo) de cachoeiras a explorar. No imponente relevo montanhoso, picos quase sempre cobertos por nuvens ultrapassam a marca de 1.300 metros. E a mata atlântica da ilha, cobrindo 85% do município, tem a proteção do Parque Estadual de Ilhabela. Um privilégio, considerando que, no total, a área remanescente em nosso país é de apenas 7% da cobertura original.
As praias voltadas para o continente são badaladas e urbanizadas do jeito que estamos acostumados: asfalto, ciclovia, TV a cabo, internet e sinal de celular. No centro histórico conhecido por Vila (do antigo nome da ilha, Villa Bella da Princesa, em homenagem à irmã de D. Pedro I), luxuosas pousadas, cafés, lojas sofisticadas, bares e restaurantes da moda contam com serviço de primeiríssima qualidade.
Esse luxo todo vai até aonde o asfalto durar. Daí em diante, só se chega de jipe (em Castelhanos), por trilhas ou barco. E nada de comunicação, notícias e chateações do mundo exterior. Desligamento total. Para desbravar o lado mais intocado da ilha e suas praias selvagens, basta um pouco de disposição (e muito repelente). A natureza e a magia do lugar se encarregam do resto, enfeitiçando o visitante. Com um pouco de sorte, tucanos, maritacas, arapongas e pica-paus são avistados, participando da trilha sonora da floresta. De galho em galho, por majestosos jequitibás, jatobás, guaperuvus, cedros e ipês, a macacada grita escandalosa. Até a jaguatirica, ameaçada de extinção, é vista por estas bandas, entre espécies que só existem aqui — caso do cururuá, um roedor peludo e cheio de espinhos.
Nas praias mais remotas, comunidades caiçaras vivem isoladas do resto do mundo, mas em sintonia fina com a natureza. Conservam tradições, costumes e técnicas de caça e pesca que só eles conhecem. Diferentes no modo de falar (alguns trocam o “v” pelo “b”, como em “bassoura”), e mestres na arte de construir as seculares canoas de voga (feitas de um único tronco de árvore).
O fundo do mar lembra os reais perigos de navegação ao redor da ilha em uma coleção de mais vinte naufrágios, uma festa para os mergulhadores. Quem é credenciado para mergulho autônomo (com cilindro de ar comprimido), pode ir a fundo e conhecer de perto navios como o brasileiro “Atílio” (1905), o britânico “Whator” (1909) ou o transatlântico espanhol “Príncipe das Astúrias” (1916), isso sem falar de uma exuberante vida marinha.
Além dos encantos naturais, acima e abaixo d’água, há outra coisa marcante na ilha, principalmente nos feriados e temporadas de férias. É a fila de carros para a travessia da balsa, por vezes quilométrica… Mas não se preocupe, para isso o lado “civilizado” já providenciou a solução. Com antecedência, marque horário na balsa (serviço pago), “fure” a fila e seja feliz. No embarque, ainda em São Sebastião, só fica faltando a placa: Paraíso a 6km.