O norte do Chile é realmente um lugar de extremos. É a região mais árida do planeta, com o deserto de maior altitude localizado a 2.440 metros, onde as águas das chuvas não passam de 35 milímetros por ano e o solo impermeável lhe garante um aspecto comparado ao de Marte.
A extensa área desértica entre as águas frias do Pacífico e as monumentais cordilheiras dos Andes é o local onde o viajante que busca experiências singulares encontra refúgio sem ter que abrir mão de serviços básicos. Esse esconderijo se chama São Pedro de Atacama, pequeno povoado que serve como base para a exploração da região.
Esta cidade, que ainda guarda costumes dos povos pré-incaicos que deixaram marcas profundas em seu território, era apenas uma localidade escondida do norte do país que mal recebia visitantes estrangeiros. Hoje é um produto chileno consolidado no mercado turístico internacional ao lado de Torres del Paine e Ilha de Páscoa.
Mesmo com tanta fama, a cidade ainda preserva seu ritmo particular, que permite ao visitante um passeio, a passos lentos, por suas ruas estreitas de terra e casas de adobe com telhados de palha. O clima pacato só é quebrado por alguma festa típica do povoado, como o desfile de Santa Rosa em agosto, ou pelas músicas folclóricas tocadas nas peñas da Caracoles, a principal via de circulação.
O Atacama, que na língua cunza significa “cabeceira do país”, é marcado historicamente por disputas e dominações anteriores à chegada dos espanhóis. No ano 400 d.C., a sociedade tiwanaku, proveniente do território onde hoje se encontra a Bolívia, impõe-se hierarquicamente sobre o povo atacamenho. O período seguinte (entre os anos 900 e 1450) foi marcado pelo rompimento com aquela civilização e pelos novos conflitos sociais internos. Foi nesse contexto que os incas dominaram a região do Atacama até que fossem dizimados com a chegada dos europeus, em 1535.
Há três formas de se conhecer a região: a tradicional, em que as agências oferecem o mais básico do Atacama como os Vales da Lua e da Morte, além dos gêiseres de El Tatio; o roteiro alternativo, em que as margens do deserto ganham novas dimensões em rotas pouco divulgadas com visitas a petroglifos, povoados de um só habitante e cânions em vales multicoloridos; e a terceira opção, que alia um pouco de cada um dos dois roteiros anteriores.
Seja qual for a escolha, uma imagem será inevitável: o Licancabur, imponente vulcão cônico de 5.916 metros de altura que separa o Chile e a Bolívia. Quanto mais longe se vai, mais se vê esse vulcão onipresente entre os recortes das rochas gigantes que cercam a região.
A montanha é local sagrado desde épocas anteriores à chegada dos colonizadores, quando ali se realizavam sacrifícios com animais.
A prática foi proibida pelos espanhóis, mas o vulcão continua atraindo aventureiros até a lagoa que se localiza no seu cume, além de devotos que uma vez ao ano levam oferendas à Pacha Mama pelo que se conquistou naquele período.
É certo que a escalada de oito horas se dá pela Bolívia devido ao terreno ainda minado da época em que o Chile e a Argentina disputavam terras, mas para o Licancabur não existe fronteiras nem guerras. Por isso, ele segue soberano guardando a região. E ainda dizem que o oásis é pura ilusão. Não no deserto do Atacama.
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