Os pés ganham bolhas, o curativo cai com o suor, a água potável está no fim e não há banheiro nas proximidades. Mesmo assim, a serotonina está em festa. Nas trilhas da Chapada Diamantina, os probleminhas domésticos diminuem de tamanho diante da beleza da paisagem.
Formada por 57 municípios no sertão da Bahia, a região atrai visitantes com uma combinação de temperaturas avessas (o frio serrano à noite e o calor dos passeios sob o sol) e turismo de aventura. O garimpo mecanizado foi proibido em 1996, e desde então o poder público e os moradores apostam em “novas” fontes de renda: a visitação a cavernas, grutas, rios, cachoeiras, morros e trilhas cravados na rocha há séculos.
Dicas de sobrevivência? Vá com calma nas trilhas, comece pelas mais fáceis até pegar o ritmo de longas caminhadas. E não se constranja de parar tudo para assistir ao espetáculo das bromélias vermelhas na pedra. Milhões destas flores nascem e morrem no sertão brasileiro para ninguém ver. Uma prova da constante revitalização da geografia ancestral da Chapada é a Serra das Paridas, um sítio arqueológico que entrou no roteiro turístico no início de 2007. Quem descobriu o extenso corredor de pinturas rupestres localizado a 36 km de Lençóis foram catadores de mangaba, após um incêndio ter destruído a vegetação sobre as rochas.
No sítio, acompanhado de um guia da Associação dos Condutores, o visitante percorre paredões de figuras coloridas que lembram mamíferos, peixes, pássaros, mulheres em posição de parto de cócoras e, ao final, uma pintura de duas partes, anunciada pelo guia como “fenomenal”. A figura lembra os contornos da imagem clássica de um extraterrestre, o pescoço longo, a cabeça grande e projetada, dois olhos abertos e apenas três dedos nas mãos. A 70 km de Lençóis, o Vale do Capão, distrito de Palmeiras, parece fazer fronteira não com os russos da Ásia central, mas com os festeiros de Woodstock. É praticamente uma comunidade alternativa instalada nas bordas do Parque Nacional da Chapada Diamantina.
Quem chega até lá costuma buscar a aventura de subir o morro da Cachoeira da Fumaça e percorrer as longas trilhas do Vale do Paty. Donos de pousadas vêm incentivando o turismo que promove a saúde, com oferta de fitoterapia, massoterapia, saunas indígenas de purificação, banhos de argila e medicina holística. Tudo muito zen. Os corpos exaustos de subir e descer morro agradecem.
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