Córnea é o segundo órgão com maior número de pessoas na fila de transplante. Campanha visa conscientizar sobre importância da doação

Segundo a Central Estadual de Transplantes do Paraná, 1.260 pessoas aguardam para receber uma córnea. Tempo médio de espera é de 1 ano

 

Portador de Glaucoma desde 2000 e com sérias dificuldades na visão, o aposentado Valdir Pedro Hinckel, 68 anos, fez dois transplantes de córnea. No primeiro, o órgão teve rejeição. “Não segui o tratamento pós-operatório de forma adequada, nem as orientações médicas, e isso acabou prejudicando muito”, lembra. Após esperar na fila por um ano e meio, o segundo transplante foi realizado com sucesso, e hoje o aposentado está retomando sua rotina. “Dessa vez segui o tratamento à risca, e minha visão já melhorou bastante. Me locomovo bem, enxergo melhor os objetos. Minha vida voltou a caminhar, pois antes ela estava parada, eu dependia dos outros para tudo”, afirma.

Tecido fino, delicado e transparente localizado na frente do olho – que nos permite enxergar ou não enxergar com nitidez -, a córnea é o segundo órgão com maior número de pessoas na fila de transplante, de acordo com a Central Estadual de Transplantes do Paraná. Atualmente, 1.260 pessoas estão na fila aguardando a cirurgia.  O tempo médio de espera é de aproximadamente um ano. Essa fila é única, independente se a pessoa vai fazer o procedimento pelo SUS, convênio médico ou particular. É preciso esperar a vez. Referência em transplantes de córnea, o Hospital de Olhos do Paraná conta hoje com 298 pessoas na espera por uma nova córnea. Uma das fundadoras do hospital, a oftalmologista Saly Moreira formou o primeiro banco de olhos de Curitiba, em 1978. Desde então, milhares de transplantes já foram realizados na instituição.

“A técnica de transplante de córnea evoluiu muito nos últimos anos. Hoje fazemos os transplantes lamelares, ou seja, só da parte doente do órgão. Com isso melhoramos os resultados visuais pós operatórios, diminuímos o risco de complicações e também o risco de rejeição. Cada caso precisa ser avaliado individualmente para decidir qual a melhor técnica. O procedimento é realizado em centro cirúrgico, dura aproximadamente de 1 a 2 horas, sob anestesia local na maior parte dos casos”, explica o oftalmologista Robson Torres.

O pós-operatório geralmente não é doloroso, porém, necessita de cuidados especiais, como não realizar grandes esforços por um período de três meses. “O paciente em geral consegue recuperar 100% da visão após o transplante, e esse tempo de reabilitação visual pode demorar de 30 dias até 18 meses a depender de cada caso e da técnica utilizada”, complementa o especialista, destacando que, por conta da pandemia da Covid-19, a fila do estado que antes era de 2 a 3 meses, hoje está em torno de um ano. Porém, com a regularização e retorno normal das atividades de transplante a tendência é diminuir.

Campanha para estimular a doação de córnea

O dia 27 de setembro é marcado como o Dia Nacional da Doação de Órgãos. A necessidade de aumentar do número de doadores, e consequentemente a diminuição do tempo de espera por um transplante, é o mote da campanha “Setembro Verde”. Com o slogan “Doe um novo olhar, diga sim à vida, diga sim à doação de órgãos”, o objetivo é sensibilizar a sociedade sobre o tema. “A conscientização sobre a doação de órgãos é fundamental. É através desse ato de amor que conseguimos recuperar a visão e a qualidade de vida de milhares de casos de cegueira que estão na fila aguardando sua vez. Para ser doador hoje no Brasil não é necessário deixar nada por escrito, em nenhum documento. Basta comunicar sua família do desejo da doação, então é um processo bem simples”, explica Dr. Robson Torres.

A expectativa por uma nova córnea e o sentimento de esperança move a técnica de enfermagem Giselle Buchner. Portadora de Ceratocone desde 2007 (alteração degenerativa na córnea) e aguardando na fila do transplante há 1 ano, Giselle deseja a volta da qualidade da sua visão. “Hoje minha qualidade visual está bem baixa, tenho uma visão distorcida. Minha esperança é que, com o transplante, as coisas voltem à normalidade, tendo assim mais qualidade de vida”, espera.