Unidos da Tijuca desembarca na avenida falando de Portugal e suas lendas

Caravelas, músicas, mitos e lendas portuguesas são o centro do enredo escolhido pela Unidos da Tijuca para o Carnaval 2024. Com o samba-enredo “O Conto de Fado”, que mistura o samba ao fado, estilo musical tradicional de Portugal, a escola chega à Marquês de Sapucaí cheia de histórias para contar sobre a “Terrinha”.

De acordo com o professor de Literatura e Arte do Colégio Positivo, Rodrigo Wieler, a escolha do fado como fio condutor do desfile é uma forma de celebrar uma das características culturais lusitanas mais marcantes, a sua produção musical. “O fado é, por excelência, a música símbolo de Portugal. Altamente sentimental e emotivo, todo fado é também uma narrativa, que relata histórias cotidianas de amor, sofrimento e esperança. Assim, influenciou diversos artistas portugueses de épocas diferentes, como os escritores Camões, Camilo Castelo Branco e Fernando Pessôa, que abordaram, cada um à sua maneira, a aflição amorosa, a espera, os desajustes das relações e a saudade.”

A história portuguesa é marcada por contos, lendas e mitos que remontam à Grécia Antiga, como cantado no trecho “Vai buscar / No vasto oceano o heróico Odisseu / Que além do Egeu não se amedrontou / Com uma rainha tão só e carente / Mulher ou serpente que jurou o seu amor / À beira do Tejo nascia Lisboa”. Os antigos gregos conheciam Portugal como Ofiussa, ou terra das serpentes, e Lisboa como Olissipo. Todas essas lendas têm papel fundamental na construção do imaginário social português. “Mitos e lendas sempre foram utilizados para retratar a trajetória dos povos de forma épica e heróica. Portugal retrata a origem política sobre a ideia de grandes combates contra os mouros (árabes) e espanhóis, no período da Revolução de Avis”, explica o assessor de História do Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento (CIPP) dos colégios do Grupo Positivo, André “Bode” Marcos.

Outra grande influência na história e cultura daquele país vem do domínio árabe na região da Península Ibérica, que se estendeu por diversos períodos históricos – o último deles acabou apenas em 1492. O samba da Tijuca também se refere a essa parte da formação portuguesa. “Algumas áreas da composição cultural de Portugal sofreram influência direta da ocupação árabe, entre elas a arquitetura, que tem como principais características, além do arco ferradura, azulejos geométricos e decoração bastante elaborada. Escalas utilizadas pela música tradicional portuguesa e alguns ornamentos melódicos também são considerados provenientes dos árabes. Há, inclusive, instrumentos tipicamente árabes e que foram incorporados pelos portugueses, como o alaúde e o oud”, lembra Muro. Por fim, até mesmo o idioma sofreu influência desse período. O professor explica que a maior parte das palavras da Língua Portuguesa iniciadas em “al”, a exemplo de alface, alfaiate ou alfinete, vieram do árabe.

Por fim, as grandes navegações empreendidas por Portugal ao longo de séculos também são tema do Carnaval. Para Bode, esse período histórico é o grande responsável por tornar Portugal a nação que é atualmente. “O processo de expansão marítima pelo Atlântico, que tinha o objetivo de controlar novas rotas comerciais, transformou o país lusitano numa das maiores potências dos séculos XVI e XVII. Portugal foi o responsável pela exploração de três continentes (África, Ásia e América), no que diz respeito a matérias-primas e mão de obra escrava. Em suma, a expansão marítima possibilitou a Portugal se tornar uma potência, pelo menos por um período, do continente europeu”, finaliza.