Tumba de Cães é bom programa no Lala

Ambientado em um mundo em guerra, TUMBA DE CÃES escrito pela italiana Letizia Russo e dirigido por Marino Jr e que teve estreia nacional no Festival de Teatro de Curitiba deste ano, é uma história que transita no tempo sem necessariamente pertencer ao passado, onde a vida se mistura com guerras diversas e tempos distintos ao mesmo tempo em que os personagens permanecem presos no espaço caótico da vida contemporânea.
As personagens de TUMBA DE CÃES são homens e mulheres degradados a uma condição de sobrevivência, não fazer nada além de esperar. O foco do texto, mostra um círculofamiliar fechado, onde o excesso de proximidade obriga-os a mostraremo pior de si. E faz isso com muita propriedade com uma série de referências literárias.
A autora Letizia Russo esteve em Curitiba para assistir à estreia da montagem brasileira no Festival de Teatro de Curitiba deste ano.
Considerada como expoente da dramaturgia contemporânea europeia ela se mostrou contente com o resultado.
“O trabalho foi excelente. Há uma grande capacidade dos atores de entrarem na história, de se apropriar do texto e dos personagens”, disse na coletiva de imprensa do festival. Os textos de Letizia já foram foi encenados na Espanha, Portugal, Chile, Brasil e Alemanha e recebeu os prêmiosTondelli (2001) e UBU (2003), dois dos maiores reconhecimentos aosautores teatrais italianos.

Glauce (Simone Klein), uma viúva sem olhos, sentada em uma cadeira de rodas, como se fosse um trono, nos relembra Édipo, ou ainda uma Hécuba condenada a ver a tudo e todos desaparecerem. O filho dela, Johnny (Cristóvão de Oliveira) rejeitado pelo serviço militar por não têm as medidas de soldado é condenado a viver a sua guerra pessoal em casa com sua mãe numa reminiscência de Hamm e Clov em Final de Partida de Becket. O rapaz ainda mantém um relacionamento com a vizinha Mània (Andressa Medeiros) que aguarda o retorno de Luther (Daniel Marcondes) de Cinossema (um pedaço de mar onde, segundo a lenda, Hécuba teria morrido), um marido traído numa referência clara ao retorno de Agamenon.
Somadas a estas referências o requinte extremo de escrita, que é repetitivo como os contos bíblicos ou populares, em que a recuperação repetida de algumas expressões que proporcionam um efeito cumulativo ou diminutivo de expressividade extraordinária e que funcionam como uma gramática em ação.