Tratamento auxilia na cura da obesidade

Para algumas pessoas não basta apenas fechar a boca e fazer atividade física para emagrecer. No caso de muitos homens e mulheres a obesidade é uma condição que merece atenção de diversas especialidades, inclusive da psiquiatria e da psicologia. Isso porque fatores psicológicos podem levar ao aumento de peso e a obesidade.
“Pessoas deprimidas têm grandes chances de ganhar peso, porque ficam sedentárias e costumam consumir mais alimentos calóricos. O sedentarismo e o consumo destes alimentos provocam aumento de peso, desmoralização e mais depressão, em um ciclo que se perpetua”, exemplifica o professor e cirurgião paranaense, Caetano Marchesini – membro da Federação Internacional de Cirurgia para Obesidade (IFSO).
Conflitos internos também podem colaborar para que o indivíduo compense seus problemas, aumentando o consumo de determinados alimentos gordurosos e altamente calóricos, como doces e chocolates. “A ciência está comprovando que pessoas obesas têm menor saciedade e uma necessidade maior de consumir alimentos calóricos para compensar esta deficiência”, informa o psiquiatra e pesquisador, Hélio Tonelli, mestre em farmacologia e especialista em obesidade.
Ele explica que o excesso de gordura corporal libera várias substâncias tóxicas para todo o organismo, inclusive para o cérebro, provocando prejuízos às áreas que controlam a sensação de saciedade e a capacidade de resistir ao consumo de alimentos gordurosos. “Não se trata apenas de não ter competência para se controlar, mas as pessoas obesas sofrem de efeitos tóxicos da obesidade sobre o cérebro, provocando alterações na maneira como elas se alimentam, pensam e se emocionam”, enfatiza o psiquiatra que é autor de publicações científicas em neurociência.
Sendo a obesidade uma doença de causa multifatorial e que envolve questões psíquicas, os pacientes acabam procurando as mais variadas formas de cura. Uma das soluções mais eficazes para o problema da obesidade mórbida é a cirurgia bariátrica. Em contrapartida, este tipo de procedimento cirúrgico – que muda a vida do paciente obeso de uma hora para outra – também exige um preparo psicológico e acompanhamento psiquiátrico.
O médico Caetano Marchesini encaminha para a avaliação psiquiátrica todos os pacientes que desejam fazer a redução de estômago.“O objetivo da consulta é detectar qualquer distúrbio que possa prejudicar a boa evolução do paciente no período pré-operatório e pós-operatório”, conta Marchesini. O paciente é avaliado após uma ou duas entrevistas com o psiquiatra. O profissional procura investigar se o candidato à cirurgia bariátrica sofre de algum transtorno por uso de substâncias químicas e outras condições psiquiátricas como depressão e transtorno bipolar. “A personalidade e o temperamento do paciente são avaliados para sabermos se ele tem condições mentais e emocionais para se beneficiar da cirurgia bariátrica e se a operação não passará a ser um problema a mais em sua vida”, ressalta Hélio Tonelli.
O preparo para o pós-operatório imediato inclui estratégias para enfrentar as mudanças que a cirurgia causará na vida do paciente, como a privação alimentar. Já o preparo para o pós-operatório tardio vai recuperar habilidades que os pacientes deixaram de desenvolver ou interromperam devido a obesidade.
Como exemplo, Hélio Tonelli, cita casos de pacientes jovens, que foram obesos na adolescência e não sabem como devem se relacionar com outros jovens e pessoas do sexo oposto.“É comum queixas de pessoas que, ao emagrecerem após a cirurgia, passam a despertar o interesse em outras pessoas e não sabem como lidar com isso”, demonstra Tonelli.
O psiquiatra acredita que a cirurgia bariátrica é o melhor tratamento para a obesidade mórbida, mas que o sucesso também depende muito da participação ativa do paciente no tratamento. “O paciente passará por uma mudança importante na sua maneira de viver e o acompanhamento psiquiátrico auxilia na sua motivação e engajamento neste processo de mudança”, informa Tonelli.