Pesquisadores israelenses anunciaram nesta quinta-feira (24/06) terem encontrado ossos pertencentes a um “novo tipo de humano primitivo” anteriormente desconhecido pela ciência, em uma descoberta que pode lançar nova luz sobre a evolução humana e questionar se os neandertais surgiram realmente na Europa.
Em escavações perto da cidade de Ramla, foram descobertos vestígios pré-históricos que não podem ser comparados com nenhuma espécie conhecida do gênero Homo.
Em um estudo publicado na revista científica Science, os pesquisadores da Universidade de Tel Aviv e da Universidade Hebraica de Jerusalém chamaram a descoberta de Nesher Ramla Homo, em homenagem ao local onde os ossos foram encontrados.
Os fósseis datam de 140.000 a 120.000 anos e a equipe acredita que o tipo Nesher Ramla teria convivido com o Homo sapiens, a linhagem dos humanos modernos.
“Nunca tínhamos imaginado que, ao lado do Homo sapiens, o Homo arcaico vagava pela região tão recentemente na história da humanidade”, disse o arqueólogo Yossi Zaidner, principal autor do estudo.
De acordo com os pesquisadores, “o Nesher Ramla compartilha características morfológicas com os neandertais e com o Homo arcaico”. “Ao mesmo tempo, este tipo de Homo é muito diferente dos humanos modernos, com uma estrutura de crânio completamente diferente, sem queixo e com dentes muito grandes”.
Caçadores eficientes
Junto com os restos humanos, a escavação descobriu grandes quantidades de ossos de animais e ferramentas de pedra. As evidências mostram que eles dominavam totalmente as técnicas que, até recentemente, estavam ligadas ao Homo sapiens ou aos neandertais.
De acordo com o estudo, os Nesher Ramla eram caçadores eficientes de grandes e pequenos animais, usavam lenha como combustível, comiam carne cozida ou assada e mantinham fogueiras. “Muito provavelmente eles interagiram com o Homo sapiens local”, afirma Zaidner.
Os pesquisadores sugerem que alguns fósseis previamente descobertos em Israel datados de até 400.000 anos podem ser do tipo Nesher Ramla.
A dentista e antropóloga Rachel Sarig, da Universidade de Tel Aviv, explica que, anteriormente, pesquisadores haviam tentado atribuir esses ossos a grupos humanos conhecidos, como o Homo sapiens ou os neandertais. “Mas agora afirmamos: Não. Este é um grupo em si, com características distintas”, disse ela.
Neandertais podem não ter surgido na Europa
Para os pesquisadores israelenses, a descoberta de um novo grupo arcaico de Homo no Oriente Médio coloca em xeque as ideias aceitas de que os neandertais se originaram na Europa.
“Antes dessas novas descobertas, a maioria dos pesquisadores acreditava que os neandertais eram uma ‘história europeia’, na qual pequenos grupos de neandertais foram forçados a migrar para o sul para escapar das geleiras que se espalharam”, disse Israel Hershkovitz, da Universidade de Tel Aviv. “Nossas descobertas indicam que os famosos Neandertais da Europa Ocidental são apenas remanescentes de uma população muito maior que viveu aqui no Levante – e não o contrário”, acrescentou.
Sarig disse que pequenos grupos do tipo Nesher Ramla provavelmente migraram para a Europa, mais tarde evoluindo para neandertais, e para a Ásia, desenvolvendo-se em populações com características semelhantes.
Para o professor Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres, as descobertas israelenses são importantes, mas ele questiona a alegação dos pesquisadores de uma ligação com os neandertais.
“Acho que é um salto muito grande, no momento, ligar alguns dos fósseis israelenses mais antigos aos neandertais”, disse Stringer à BBC.
Elo perdido
Os geneticistas que estudam o DNA do Neandertal europeu já sugeriram a existência de uma população semelhante ao Neandertal, apelidada de população ausente ou população X, que teria cruzado com o Homo sapiens há mais de 200.000 anos. No artigo, os pesquisadores israelenses sugerem que o tipo Nesher Ramla Homo pode ser o elo perdido.
Sarig disse que a descoberta sugere que “como uma encruzilhada entre a África, a Europa e a Ásia, a Terra de Israel serviu como um caldeirão onde diferentes populações humanas se misturaram, para posteriormente se espalharem pelo Velho Mundo.
“A descoberta em Nesher Ramla escreve um capítulo novo e fascinante na história da humanidade”, disse ela.