A pandemia mudou a forma de consumir cultura por todo o mundo. Diante da pausa obrigatória em shows e atividades presenciais, como medida de contenção da Covid-19, artistas improvisaram e se tornaram adeptos às lives para levar suas músicas ao público. No Brasil, as transmissões ao vivo se tornaram verdadeiros eventos na sala de casa dos telespectadores e fizeram com que astros alcançassem marcas inacreditáveis de audiência. Gusttavo Lima, Marília Mendonça, Leonardo, por exemplo, se conectaram a multidões por meio das performances à distância. Mas, a alternativa veio para ficar?
Para Ricardo Kurtz, fundador e CEO do ZoOme.TV, as lives democratizam o acesso à cultura, levando conteúdo para diferentes públicos e lugares.
“Acredito que o ápice das lives ocorreu no momento máximo de confinamento em que as pessoas estavam praticamente todas em casa, buscando opções de entretenimento. Não acho possível, pelo menos nos próximos anos, alcançarmos audiências parecidas em qualquer outra iniciativa. As transmissões pela internet são ferramentas poderosas de democratização, já que alcançam geograficamente locais remotos, como são mais acessíveis financeiramente também. O que não é possível no formato presencial”, reflete Kurtz.
O empresário é um dos que veem em performances híbridas o futuro do entretenimento. O formato consiste em unir as duas modalidades: presencial e virtual. De acordo com Ricardo, as vantagens obtidas pela transmissão on-line podem se unir às vantagens de uma apresentação in loco e resultar em um grande projeto.
A abertura do ZoOme Hall at Teatro B32, espaço nascido durante a pandemia para funcionar com o caráter híbrido, contou com nomes de peso em maio deste ano. O show inaugural, em 4 de maio, foi de Gusttavo Lima.
O híbrido na prática
O empresário Renato Sertanejeiro, que tem mais de 590 mil inscritos no YouTube, acredita que o entretenimento híbrido já está presente na rotina de importantes cantores do cenário nacional.
“Claro que não se compara ao que era arrecadado com a realização dos shows presenciais. Mas, com a retomada das apresentações presenciais, porque não também conseguir arrecadar com as transmissões on-line?”, considera Renato.
Apesar de conseguir visualizar a chegada do modelo híbrido, Sertanejeiro não acredita que os espectadores pagarão sempre para assistir às transmissões virtuais. “Nas lives, os cantores e seus empresários ganham com a venda de patrocínio, anunciantes que serão exibidos durante a live. Porém, o usuário pagar para assistir à live, eu acho mais difícil. Ele já se acostumou a ver pelo YouTube ou outra plataforma”, avalia Renato.
Contudo, Ricardo explica que no entretenimento híbrido, diferentemente das lives gratuitas, os shows on-line são mais atraentes que as lives tradicionais, pois são realizados com mais qualidade acústica, sem interrupções e, principalmente, sem aquele estilo “improvisado”.
“Dessa maneira, eles suprem a necessidade do público que ainda se encontra em casa nos tradicionais dias de lazer, e ainda garantem aos artistas o retorno da monetização através dos ingressos. Entretanto, por ser online, o preço acaba sendo muito menor que um show presencial – ponto para o público”, acrescenta o fundador e CEO do ZoOme.TV.
No Spotify
Há algumas semanas, um dos gigantes do streaming no Brasil, o Spotify, anunciou o início de um novo projeto: os shows virtuais. Na premissa de unir os artistas ao público de forma que ajude a saciar a “saudade de um showzinho”, a plataforma realizou cinco transmissões internacionais.
Os shows transmitidos na plataforma aconteceram entre 27 de maio e 24 de junho. As apresentações tiveram duração entre 40 e 75 minutos e aconteceram nos lugares preferidos de cada um dos artistas, com músicas novas ou clássicas. Entre os grupos que se apresentaram, The Black Keys, Rag’n’Bone Man e Bleachers.
Para prestigiar a performance, o público interessado deveria adquirir ingressos previamente por meio do aplicativo do Spotify e não precisava ser usuário Premium para tal.