Covid-19 já pode ser considerada uma endemia, diz secretário de Saúde do Rio

Em entrevista a rádio, Daniel Soranz também afirmou acreditar que desfiles em abril não terão impacto sobre o cenário epidemiológico da cidade. Fase pós-epidêmica da doença não é unanimidade entre especialistas

Segundo o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, a Covid-19 já pode ser considerada uma endemia e não será erradicada em curto prazo. A declaração foi dada em entrevista à Agência Brasil e à Rádio Nacional nesta quinta-feira.

— A gente já pode considerar a pandemia de Covid-19 como uma endemia, uma doença que vai estar presente ao longo do tempo — disse.

A classificação da Covid-19 como endemia segue o exemplo de alguns países onde os indicadores da doença registram queda acentuada, mas não é unanimidade entre os especialistas.

Na entrevista, Soranz comentou o fim dos protocolos de proteção à vida na cidade. Depois que o uso das máscaras perdeu a obrigatoriedade, apenas a exigência de comprovação vacinal para a entrada em locais de uso comum, o chamado “passaporte da vacina”, foi mantido pela Secretaria municipal de Saúde (SMS).

— A pandemia, agora, já virou uma endemia. Ela se mantém ao longo de um tempo muito grande. Se não aparecer nenhuma nova variante, como aconteceu com a variante Ômicron, a gente vai ter um cenário de muito mais normalidade nos próximos dias — afirmou.

Ao GLOBO, Soranz explicou que sua análise se baseia na redução dos índices da Covid-19 e no fato de que nenhuma nova variante de preocupação do coronavírus foi identificada:

— Tudo indica que a Covid terá uma circulação sustentada e permanente, apesar da queda dos indicadores neste momento. Já faz parte do nosso dia a dia. Vamos seguir com o monitoramento permanente das cepas, embora o nosso panorama hoje seja muito favorável.

Nos últimos meses, nações como França, Reino Unido, Espanha e Dinamarca deixaram de categorizar a Covid-19 como uma epidemia, atribuindo à doença a classificação de endemia. Ela é conferida às enfermidades que apresentam aumento periódico de casos, como a dengue e a gripe.

Entre os especialistas, contudo, a mudança de nome não é uma unanimidade. Para a epidemiologista Gulnar Azevedo, professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), está claro que não se trata de uma endemia.

— Endemia é quando você tem anos e anos observando aquele mesmo número de casos periodicamente. Não é o que estamos vendo agora. A Covid é muito recente — pontua a especialista.

Ela considera o debate uma “falsa discussão”, pois, no fim das contas, o vírus permanece circulando, alheio a possíveis marcos estabelecidos pelas autoridades no sentido de sinalizar o suposto fim da epidemia.

— Eu não me preocuparia em ficar definindo se é endemia ou se não é. Me preocuparia muito mais com ter certeza de que a queda dos indicadores da Covid se sustentará. Não podemos ficar nessa discussão de endemia e epidemia, porque é uma discussão teórica enorme. O risco de você dizer que é endemia e depois ver que os casos voltaram a subir além da conta é grande. Ninguém é capaz de decretar o fim de uma epidemia — explica.

A especialista diz ainda que a transição da epidemia para endemia, a depender do contexto social e sanitário da população, não necessariamente significa melhora:

— Um dos componentes da endemia é que ela se concentra na população mais vulnerabilizada, mais pobre, que vive em más condições sanitárias e de moradia. É o caso da dengue e da hanseníase, por exemplo.

Segundo o epidemiologista Diego Xavier, da Fiocruz, mais dados científicos são necessários para que possamos chamar a Covid-19 de endemia. Isso porque as doenças endêmicas tendem, de tempos em tempos, a provocar um número previsível de infecções. Como a Covid-19 é nova, a ciência ainda não sabe o que esperar.

— A gente ainda não sabe o que vai acontecer todo ano com a Covid. Por isso continuamos dentro de uma epidemia — disse o especialista ao GLOBO no fim de fevereiro.

Na entrevista, Soranz acrescentou que as medidas de combate à contaminação podem ser retomadas em caso de revés no cenário epidemiológico, mas pontuou que o panorama atual da doença é muito favorável.

— Temos sempre que estar acompanhando qualquer mudança de cenário no Brasil e no mundo, e, se necessário, mudar as medidas restritivas. Mas, nesse momento, a gente tem um cenário muito positivo, de queda permanente — disse.

Carnaval

Ainda de acordo com o secretário, os desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, marcados para abril, não devem ter impacto sobre o cenário epidemiológico do município, já que a movimentação observada nas ruas em fevereiro, nas datas originais do carnaval, não provocou aumento de infecções.

— O carnaval não foi um problema na data original, mesmo com as aglomerações, e a gente espera que o carnaval na Sapucaí aconteça normalmente, que as pessoas possam voltar a ser felizes, estar juntas e voltar um pouco o jeito carioca de ser — afirmou.