Em recente estudo publicado no jornal Clinical Radiology (Elsevier), a proposta de recorrer à ressonância magnética para diagnosticar a apendicite tem como importante objetivo evitar submeter o paciente infantil às radiações ionizantes de uma tomografia computadorizada. De acordo com o médico radiologista Fabrício Alves, da Clínica São Judas Tadeu (MG), o paciente com apendicite geralmente apresenta fortes dores na região do umbigo, além de febre, náuseas, vômito, perda de apetite e paralisação do intestino. “A dor, no início, pode ser difusa. Mas, se realmente o peritônio estiver comprometido, a investigação radiológica deve ser realizada sem demora para que o tratamento traga alívio ao paciente e evite consequências mais graves, como uma infecção generalizada. Nesse sentido, a ressonância magnética pode ser usada em conjunto com o ultrassom, principalmente nos casos duvidosos”.
A apendicite – que afeta principalmente crianças e jovens entre 10 e 20 anos – é uma inflamação do apêndice, pequeno órgão linfático com formato de ‘dedo’ que faz parte do intestino grosso. Quase sempre, resulta em cirurgia de emergência. Apesar do consenso popular de que o apêndice é um órgão sem função, quando ele fica obstruído ou inflama pode ocorrer translocação bacteriana – levando as bactérias que vivem no interior do apêndice a atravessar sua parede e chegar à corrente sanguínea e ao peritônio (membrana que reveste o intestino). Alves aponta mais uma razão para realizar uma investigação diagnóstica abrangente. “Além da apendicite, os exames de imagem podem diagnosticar outros problemas importantes, como diverticulite, síndrome do intestino irritável, ou, ainda, inflamações das trompas, ovários e útero. Como o diagnóstico de apendicite é complexo e o tratamento é cirúrgico, cabe ao radiologista lançar mão de toda tecnologia disponível para determinar com máxima precisão o quadro do paciente”.
O estudo norte-americano avaliou 510 pacientes pediátricos submetidos à ressonância magnética com suspeita de apendicite entre 2011 e 2013. A precisão diagnóstica da RM superou expectativas, com 96,8% de sensibilidade e 97,4% de especificidade. Mas as medidas que mais chamaram atenção foram o valor preditivo positivo (92,4%) e o negativo (98,9%). “A sensibilidade e a especificidade de um exame são muito importantes. Mas elas ficam em segundo plano quando obtemos os valores preditivos de um teste. Ou seja, a probabilidade de, diante de um resultado positivo ou negativo, existir ou não a doença”, diz o radiologista brasileiro. “Apesar de o papel da ressonância magnética no diagnóstico de apendicite ter sido bastante bem avaliado, vale ressaltar que o ultrassom continua sendo usado como primeiro recurso na investigação diagnóstica por imagem em casos de dor abdominal em crianças e adolescentes”.