Janeiro se inicia e a combinação de verão e férias faz com que muitos brasileiros exagerem no consumo de bebidas alcoólicas. Nos últimos anos, diversas pesquisas comprovaram a relação direta entre a ingestão de álcool e o maior risco de câncer. É sabido que o consumo de bebidas alcoólicas de qualquer tipo por longos períodos de tempo aumenta o risco de câncer de esôfago, boca, laringe, intestino, fígado, pâncreas e mama.
O cirurgião oncológico do Hospital São Vicente, Dr. Marciano Anghinoni, comenta duas importantes pesquisas recentes sobre esse assunto. De acordo com o médico, vários mecanismos estão relacionados a esse risco aumentado, e o mais conhecido é o dano direto ao DNA das células. Dr. Anghinoni relata que recentemente uma pesquisa experimental em ratos, e publicada na revista Nature, estabeleceu forte correlação do álcool com danos irreversíveis ao DNA das células.
Nesse estudo científico, cientistas do Laboratório de biologia molecular MRC, coordenados pelo professor Ketan Patel, em Cambridge -Inglaterra, deram álcool aos ratos da pesquisa e usaram um método de análise de DNA para examinar o dano ao nível molecular ou seja, nos genes, causado pelo acetaldeído, uma substância gerada quando o corpo metaboliza o álcool.
Eles descobriram que o acetaldeído pode danificar o DNA de dentro das células de maneira permanente. Os resultados dessa importante pesquisa ajudam a entender como a ingestão de bebidas alcoólicas aumenta o risco de desenvolver vários tipos de câncer, incluindo os mais comuns, como o de mama e o de intestino. Dr. Anghinoni ressalta que o estudo é experimental em ratos e não é possível se definir, pelo estudo, qual a quantidade de álcool que estaria associada a esse aumento de risco.
“Por muito tempo considerou-se que o consumo de uma dose diária seria uma quantidade segura e até benéfica. Isso equivale a uma dose de destilados, uma taça de vinho ou uma lata de cerveja de médio teor alcoólico. Pesquisas realizadas na última década sugeriram que o limite seguro de consumo de álcool seria de até dois drinques por dia para homens e um drinque por dia para as mulheres. Isso porque as mulheres decompõem o álcool mais lentamente”, afirma Dr. Anghinoni. No entanto, um estudo mais recente publicado na revista Lancet, talvez o mais importante estudo já publicado sobre a relação álcool e câncer, revelou que não há quantidade segura.
Na pesquisa, realizada com milhares de participantes de 15 a 95 anos, com a contribuição de pesquisadores colaboradores de 196 países, os cientistas compararam a evolução clínica de pessoas que não bebem álcool com consumidores de bebida alcóolica, no período de 1990 a 2016. De acordo com Max Griswold, da Universidade de Washington, nos EUA e autor principal autor da pesquisa, os riscos combinados à saúde aumentam com qualquer quantidade consumida.
O estudo concluiu que quem consome diariamente uma dose de destilados (equivalente a 10 gramas de álcool puro) apresenta um risco 0,5% maior de desenvolver câncer, se comparado a quem não bebe. Se o consumo for de duas doses por dia, o risco sobe para 7%. E, no caso de cinco doses diárias, chega a ser 37% maior.
“A recomendação de que um ou dois drinques por dia é bom para você é um mito”, afirma Emmanuela Gakidou, pesquisadora do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME em inglês) da Universidade de Washington e uma das principais autoras do estudo, que faz parte do Estudo Global da Carga de Doenças (conhecido pela sigla em inglês de GBD).
Embora várias pesquisas demonstrem efeito benéfico da ingestão de álcool na prevenção de doenças cardíacas, outras evidências recentes também sugerem que os riscos da ingestão prolongada superam os possíveis benefícios. “Além disso, a redução do risco de doença cardíaca não deve se tornar um argumento para o consumo de álcool. Existem outras maneiras de reduzir o risco de doença cardíaca, como evitar o cigarro, manter hábitos dietéticos saudáveis, evitar o sedentarismo e a obesidade”, pondera Dr. Anghinoni.
Para finalizar, o médico do Hospital São Vicente ressalta que a ingestão de álcool faz parte da cultura e da vida social de diversos países, e o consumo ocasional e moderado está relacionado a hábitos, celebrações e prazer e que os consumidores devem assumir de maneira consciente esse risco. “Os mesmos estudos revelam que o consumo ocasional de pequenas quantidades de álcool não aumentou o risco de doenças. Portanto, proibir o consumo da bebida não é a solução e está longe de ser algo pautável pelos órgãos governamentais. É preciso que se criem novos hábitos a partir desses conhecimentos e que para os consumidores de álcool a ingestão seja esporádica e consciente, e ainda, que cada pessoa esteja ciente dos riscos que está assumindo se adotar hábitos de consumo diários ou de maiores quantidades. O que os governos e os órgãos de saúde devem fazer é propagar a informação de que o consumo diário de bebidas alcoólicas não é seguro em nenhuma quantidade e que acarreta risco à saúde, incluindo o desenvolvimento do câncer”, conclui Dr. Anghinoni.
Sobre o Hospital São Vicente-Funef
Fundado em 1939, o Hospital São Vicente é referência no transplante de fígado e rim, e nas áreas de Oncologia e Cirurgia. De alta complexidade, atende diversas especialidades clínicas e cirúrgicas, sempre com foco na qualidade e no tratamento humanizado. Desde 2002, a instituição é gerida pela Fundação de Estudos das Doenças do Fígado Kotoulas Ribeiro (Funef).
Sua estrutura conta com Pronto Atendimento, Centro Médico, Centro Cirúrgico, Exames, UTI, Unidades de Internação e Centro de Especialidades. O programa de Residência Médica é credenciado pelo MEC nas especialidades de Cirurgia Geral, Cirurgia Digestiva, Cancerologia Cirúrgica e Radiologia.