Os inibidores de apetite podem voltar ao mercado brasileiro. Nesta semana, os senadores votam o projeto de decreto legislativo (PDS 52/2014) que libera a venda de inibidores de apetite para o tratamento de obesidade. A votação havia sido adiada por pedido de vista coletiva e retorna à pauta da reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ).
Essa decisão suspende a resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de outubro de 2011, que tinha interrompido a produção e a venda de anfepramona, femproporex e mazindol, além de criar fortes restrições à sibutramina.
O professor e cirurgião paranaense, Caetano Marchesini – membro da Federação Internacional de Cirurgia para Obesidade (IFSO), é contra a liberação. Ele explica que as substâncias têm contraindicações. “A liberação de inibidores de apetite pode trazer mais prejuízos que benefícios à saúde das pessoas. As anfetaminas e seus derivados exercem ações químicas sobre o cérebro e provocam excitação, insônia e falta de apetite”, relata Marchesini.
Segundo ele, no início os medicamentos promovem perda rápida de peso, mas quando suspensos, causam um efeito rebote fazendo o apetite voltar de maneira exagerada. “É muito comum os pacientes ganharem mais peso do que tinham antes de usar a droga. Além disso, seu uso contínuo provoca distúrbios psiquiátricos graves como depressão e irritabilidade. Muitas vezes a pessoa fica excitada, eufórica e falante e com comportamento inadequado e pode desenvolver um sentimento de que está sendo perseguida”, reforça Marchesini.
Entre os efeitos colaterais dos inibidores estão ainda, o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, arritmias, diarreias, gastrite, tremor fino de mãos e boca seca. “O maior problema que encontramos com estes medicamentos é a prescrição inadequada e indiscriminada feita por alguns profissionais”, informa Caetano Marchesini.
Vale lembrar, que apenas a sibutramina não está proibida no Brasil, porém a comercialização é bastante controlada. O objetivo é restringir o acesso para pacientes que realmente precisam. O especialista afirma que a saída para obesidade está na mudança dos hábitos de vida, no acompanhamento nutricional e na introdução da atividade física. “Mesmo dentro do ambiente de trabalho é possível mudar hábitos sedentários para hábitos mais saudáveis como, por exemplo, subir um lance de escadas ou descer um ponto de ônibus antes da parada. Tudo isso pode trazer benefícios para pessoas com sobrepeso, desde que feito com regularidade”, enfatiza Marchesini. O especialista em obesidade defende uma avaliação médica minuciosa para detectar a real causa do excesso de peso que pode ser hormonal e até psicológico.
“A obesidade hoje é um problema que atinge o mundo todo. Estudos recentes mostram que o Brasil irá liderar este ranking da obesidade nos próximos quinze anos se não fizermos alguma coisa a respeito”, informa Marchesini.