Gastronomia em protesto: casas alteram cardápios e prêmios retiram restaurantes da Rússia

Restaurantes alteram o menu, trocam nomes de drinques e deixam de usar matéria-prima russa; importantes prêmios da gastronomia mundial também anunciaram que casas do país de Putin não participam mais da competição

O Guia Michelin foi o primeiro a anunciar, na sexta-feira (4), que seu guia mundialmente famoso suspenderá todas as recomendações de restaurantes na Rússia em resposta à Guerra na Ucrânia.

Depois foi a vez do World’s 50 Best Restaurants, considerado o maior prêmio da gastronomia atual, excluir casas russas das listas que classificam os 50 melhores restaurantes e também os melhores bares do mundo – a premiação que aconteceria em julho de 2022, em Moscou, já foi transferida para Londres.

Em comunicados oficiais, ambos os prêmios afirmam que não atribuem a nenhum bar ou restaurante individualmente a responsabilidade pelas ações de seu governo, mas fizeram a escolha de não promover o país como destino.

Os boicotes também chegaram à casas ao redor do mundo, que decidiram tirar pratos russos do menu, alterar nomes e deixar de usar matéria-prima, como a vodca, vinda do país.

Em São Paulo, um importante nome da gastronomia brasileira, a chef Janaína Rueda, anunciou nessa terça (8), que tiraria o estrogonofe de carne do cardápio do Bar da Dona Onça em forma de protesto.

Mas a decisão durou pouco. Segundo Janaína, os pedidos para não retirar o prato queridinho de tantos frequentadores da sua casa em pleno prédio do Copan, no Centro, foram tantos, que ela já voltou com o estrogonofe para o menu.

Em comunicado oficial nas redes sociais, Janaína afirmou que durante o mês de março, toda a renda da venda do prato será revertida para o Pão do Povo da Rua, projeto social que oferece assistência a moradores de rua de São Paulo. Além isso, o restaurante distribuirá o prato russo aos moradores de rua na Praça Princesa Isabel, todas as quartas-feiras do mês.

Na mensagem, a chef reafirma a importância da gastronomia como ferramenta de educação política e completa: “Estamos na torcida pela paz e dizendo aos nossos amigos ucranianos e russos – que também estão sofrendo com essa guerra – que eles não estão sozinhos nessa luta!”

“Na minha experiência no ‘Cozinheiros pela Educação’, o estrogonofe, de origem russa, e sua viagem até o Brasil, onde se tornou um prato muito popular, foi uma peça-chave na abordagem à Segunda Guerra Mundial nas escolas públicas de São Paulo”, explica Janaína, que foi voluntária do projeto, que beneficiou cerca de dois milhões de estudantes da rede estadual por quatro anos.

Outras casas na capital paulista também fizeram alterações no menu em protesto contra a guerra.

No Empório Manuel, comandado por Maria Claudia Calcagniti, Paula Ramos e Daniela Ramos, que é uma combinação de empório com bistrô francês, o Strogonoff virou Picadinho Manuel e o drinque Moscow Mule virou Manuel Mule.

No italiano Piselli, do restauranter Juscelino Pereira, o drinque virou Kiev Mule, e no J1, restaurante japonês no Shopping Villa Lobos do chef Jun Sakamoto, virou Heiwa Mule (Heiwa significa paz em japonês).

Já nas casas Tadashii, Adega Santiago e Taberna 474, essas últimas do mesmo grupo, além de trocarem os nomes para Ucranian Mule e Peace Mule, a vodca russa que usavam nos drinques foi substituída por uma marca sueca.