Liderada pelo Instituto Ecofuturo, a campanha “Eu Quero Minha Biblioteca” busca a efetividade da Lei 12.244/2010, que diz que até 2020 todas as instituições de ensino brasileiras públicas e privadas deverão ter uma biblioteca. A campanha reúne a Academia Brasileira de Letras, Conselho Federal de Biblioteconomia, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Instituto de Corresponsabilidade pela Educação, Movimento por um Brasil Literário, Instituto Ayrton Senna, Instituto C&A, Rede Marista de Solidariedade e Todos pela Educação.
Até 2011, segundo um levantamento realizado pelo movimento Todos Pela Educação, com base no Censo Escolar daquele ano, apenas 33,7% das escolas do país tinham biblioteca. E, segundo outra pesquisa, do Instituto Pró-Livro, 53% dos brasileiros afirmam não ter tempo para ler e 30% não têm interesse ou não gostam de ler.
Para o pedagogo empresarial e professor Marcus Garcia, a relação com o livro deve começar cedo e acontecer em casa e na escola. Segundo ele, para a criança essa relação se constrói e se fortalece também pela cinestesia, isto é, pelo contato físico com o livro. “Ainda na fase pré-alfabética, a associação imediata e decisiva entre leitura e a “magia” do livro é criada por meio da contação de histórias, tendo o professor ou o familiar o livro em mão”, afirma. “A ausência desse contato físico e dessa associação é também responsável pela ínfima quantidade de leitores no Brasil.”
O professor diz ainda que o início do hábito da leitura nos primeiros anos de vida da criança resulta em benefícios à educação e ao desenvolvimento da cognição, raciocínio lógico, interpretação de texto e contexto, capacidade intertextual, fluência na leitura, incremento do vocabulário, capacidade de argumentação, ampliação da capacidade de escrita, entre outros.
Segundo ele, o papel dos pais e da família deve ser estimulado. Os pais podem ser orientados pela escola a fazerem, como “lição de casa”, uma leitura para os filhos de títulos indicados pela escola e também deixar que as crianças escolham outros livros. A dica é persistir nisso até a pré-adolescência e, a partir dos 14 ou 15 anos, quando os adolescentes tendem a buscar uma autonomia que deve ser dada a eles, permitir que façam algumas escolhas sob a supervisão dos pais.
É lei
Para o professor Marcus Garcia, a necessidade de uma lei para obrigar as escolas a terem bibliotecas representa a total e absoluta inépcia do Estado, ao longo das últimas décadas, em olhar para o que realmente importa na formação de um povo cidadão.
Ele explica que, entre 1946, no pós-guerra, e 1964, o Brasil passou por um período democrático em que, apesar de os governos privilegiarem as instituições democráticas, foi também um período de grande industrialização e a educação não foi uma prioridade. “Com a tomada do poder pelos militares em 1964, a educação foi direcionada para o objetivo de formar cidadãos trabalhadores e não pensadores”, afirma Garcia. Depois de 1988, com a redemocratização, a escola e a educação continuaram a ser relegadas a um nível de prioridade bastante baixo.
Garcia acredita que o que se vê hoje é reflexo dessa conjuntura histórica, ou seja, nada foi feito para que o hábito da leitura fosse estimulado e estabelecido nos cidadãos que trouxeram o Brasil até os dias de hoje e que, basicamente, são as gerações nascidas entre 1950 e 1990.
A realidade é ainda mais profunda que a falta do hábito de ler por prazer. Em janeiro, dados de um relatório da UNESCO deram uma sacudida nos educadores brasileiros: o Brasil tem 13,9% de analfabetos adultos segundo o Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos.
O professor alerta que somente as bibliotecas não resolverão o problema da leitura e da educação: “é um processo lento e que demanda ações de incentivo, promoção e fomento, como: clubes de leitura, contação de histórias, pesquisa orientada, olimpíadas de conhecimento, gincanas culturais, projetos disciplinares e interdisciplinares, entre outras iniciativas”.
De acordo com ele, o Estado e seus operadores executivos e legislativos priorizaram construir prédios de escolas com algumas carteiras e quadros de giz, mas esqueceram que são necessários laboratórios, bibliotecas, professores bem formados, bem pagos e bem orientados. “É preciso uma política pública oriunda de um plano de Estado que pense o cidadão e não as próximas eleições”, declara.