Escândalos pessoais e demissões relâmpago: a nova era da reputação como ativo estratégico

O caso de um CEO flagrado em um show do Coldplay ao lado da amante movimentou mais do que fofocas e grupos de WhatsApp. A exposição viral atingiu diretamente a imagem da empresa que ele liderava, desencadeando um debate urgente no mundo corporativo: até onde vai o impacto da reputação pessoal de um executivo na saúde de uma organização?

Vida pessoal e imagem institucional: uma linha cada vez mais tênue

Não é a primeira vez que líderes corporativos são engolidos por crises de imagem geradas fora do ambiente de trabalho. Mas a recorrência — e a velocidade com que essas situações se tornam públicas — está exigindo um novo olhar das empresas sobre o comportamento e o posicionamento simbólico de seus porta-vozes.

“A imagem pessoal de um líder se torna, inevitavelmente, um ativo ou um passivo para a marca da empresa. E isso não se resolve com uma nota oficial. Hoje, o mercado exige coerência entre quem o líder é — e o que ele representa publicamente”, explica Allan Menengoti, jornalista e estrategista em Personal Branding, criador do método Bússola Solar®.

Segundo Menengoti, reputação não se improvisa. Ela é construída (ou desfeita) nos pequenos sinais: na postura, na narrativa, no que se comunica — e, sobretudo, no que se deixa de comunicar.

O custo real da incoerência simbólica

A recente pesquisa da consultoria Hinge mostra que profissionais com marca pessoal forte chegam a ganhar até 13 vezes mais do que aqueles com baixa visibilidade estratégica. O inverso também é verdadeiro: líderes com imagem mal gerida tendem a perder oportunidades, apoio de stakeholders e até valor de mercado.

“Uma crise de reputação pode derrubar um projeto, um contrato, uma carreira. Não porque o erro foi imperdoável, mas porque o ruído de imagem gera desconfiança. E o mercado tem baixa tolerância a símbolos ambíguos”, analisa Menengoti.

Personal Branding: vaidade ou estratégia?

Para especialistas, cuidar da marca pessoal de líderes e executivos não é mais uma questão de estilo, mas de governança reputacional. Afinal, a era da superexposição exige um posicionamento claro — ou o mercado preencherá o silêncio com suposições.

“O Personal Branding não é sobre autopromoção. É sobre expressar, com consistência, quem você é, o que defende e como gera valor. E isso precisa estar alinhado à cultura da empresa e ao momento do mercado”, afirma Menengoti.

O que as empresas estão fazendo?

Algumas companhias de capital aberto já implementaram protocolos de gestão de imagem para seus executivos, com mentorias de posicionamento estratégico, media training e auditorias simbólicas periódicas. A ideia é prevenir crises antes que elas aconteçam — e alinhar o discurso do líder com os valores e objetivos do negócio.

Para Menengoti, o ponto de partida é claro:

“Se o líder não constrói a própria narrativa com estratégia, alguém vai construir por ele. E nem sempre essa narrativa será favorável.”