Perigo da venda de antibióticos sem prescrição médica é debatido por médico no Dia de Combate à Infecção Hospitalar

O Dia de Combate à Infecção Hospitalar, comemorado em 15 de maio, é uma boa oportunidade para trazer à tona novamente uma antiga polêmica da área médica: a venda de antibióticos sem prescrição. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), desde novembro de 2010, obriga farmácias e drogarias a exigir receita médica para a venda de antibióticos, com prescrição feita em duas vias e a validade da receita de dez dias.

Desde abril de 2011 as embalagens e bulas também incluem a seguinte frase: “Venda sob prescrição médica – só pode ser vendido com retenção da receita”. A proposta para restringir e tornar mais rígidas as vendas de antibióticos no Brasil teve como objetivo diminuir o consumo desnecessário desses medicamentos e evitar o aumento da resistência bacteriana a esses remédios.

Segundo Jaime Rocha, infectologista e integrante do corpo clínico do Laboratório Frischmann Aisengart, a medida da ANVISA foi extremamente benéfica já que, na prática, uma boa parte das vendas de antibióticos era feita sem nem mesmo a apresentação de uma receita médica. “O antibiótico é o único medicamento com impacto social. Se uma pessoa usa mal o antibiótico, pode-se induzir uma resistência bacteriana para outros pacientes, ou seja, ele pode deixar a bactéria ainda mais resistente e trocar material genético com outras bactérias, atingindo o que chamamos de transmissão horizontal,” explica o especialista.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais da metade das prescrições de antibióticos feitas no mundo é inadequada. De acordo com Rocha, para minimizar este problema existem exames como o antibiograma, disponível no Laboratório Frischmann Aisengart, e que ajudam o médico a escolher o antibiótico mais apropriado para o paciente. “O uso de antibiótico deve ser pautado em diagnóstico preciso, clínico, laboratorial e microbiológico”, reforça.

Outra análise que auxilia a prescrição correta de medicamentos é a procalcitonina (PCT), que diagnostica a infecção bacteriana grave do organismo, chamada no jargão médico de sepse. Segundo o infectologista, o resultado deste exame pode resultar na diminuição dos efeitos colaterais das medicações, bem como da resistência bacteriana e de custos hospitalares, pois pode auxiliar na retirada de antibióticos. O Laboratório Frischmann Aisengart foi, em 2011, o primeiro laboratório de Curitiba a oferecer o exame.

KPC
Jaime Rocha também foi um dos autores de um estudo internacional sobre a KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase), conhecida como a superbactéria e normalmente adquirida por pacientes hospitalizados. O estudo foi aprovado por algumas das mais renomadas publicações científicas do segmento no mundo e trouxe revelações sobre a KPC. A pesquisa associou a doença à idade do paciente e ao uso da técnica de ventilação mecânica. A KPC é uma bactéria resistente a antibióticos e os estudos que são feitos têm principalmente o objetivo de proteger pacientes contra infecções hospitalares.

O estudo foi realizado para avaliar os fatores de risco para a KPC em pacientes hospitalizados. De acordo com Jaime Rocha, a indicação de associação da superbactéria com a idade do paciente e com o uso de ventilação mecânica é muito relevante já que, até o momento, foram poucos os estudos feitos para a análise dos fatores de risco para a KPC. O infectologista explica que a ventilação mecânica é um método de substituição da ventilação normal, usada na ressuscitação cardiopulmonar, medicina de tratamento intensivo e anestesia. Mas o método apresenta uma série de complicações, sendo a principal a infecção respiratória.

A superbactéria KPC foi identificada pela primeira vez nos Estados Unidos, em 2000, depois de ter sofrido uma mutação genética que lhe conferiu resistência a múltiplos antibióticos e a capacidade de se tornar resistente a outras bactérias. Atribui-se esta característica ao uso indiscriminado ou incorreto de antibióticos. A KPC pode ser encontrada nas fezes, água, solo, vegetais, cereais e frutas. A transmissão acontece em ambiente hospitalar, por meio do contato com secreções do paciente infectado. A superbactéria pode causar pneumonia, infecções sanguíneas, no trato urinário, em feridas cirúrgicas e doenças que podem evoluir para um quadro de infecção generalizada, muitas vezes mortal.