Todos os anos, o número de mulheres ao volante cresce significativamente no Brasil. Somente em fevereiro deste ano, 2,7 mil novas mulheres conquistaram a permissão para dirigir – 47,47% do total de condutores com a primeira habilitação, que é de 5,6 mil, de acordo com dados do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR). Hoje, o número de mulheres motoristas é de 32% do total de condutores no estado.
Porém, o que poucos sabem é que muitas dessas mulheres precisaram, antes de qualquer coisa, vencer o medo de dirigir para conquistar a independência. Pensando nisso, a Autoescola Ella, única no Brasil especializada em aulas de direção para mulheres, desenvolveu o programa “Sem Medo de Dirigir”, que visa ajudá-las a vencer o medo ou a fobia na direção. Nesse processo, a aluna passa por três etapas.
Na primeira, a psicóloga traça o perfil da aluna, para repassar à instrutora, e identifica se é preciso passar à segunda etapa. Caso isso seja necessário, o segundo passo é realizar as aulas práticas sob o comando da instrutora e assistidas pela psicóloga. Nesse momento, identifica-se o grau de dificuldade e avalia-se a extensão do problema. Além disso, durante as aulas, são dadas dicas e orientações tanto para a instrutora, quanto para a aluna sobre como lidar com cada situação. A terceira e última etapa consiste no feedback, para que a aluna possa conversar com a especialista para saber a evolução de seu caso.
Durante todo o programa, as mulheres aprendem, ainda, técnicas de relaxamento e respiração. “A maioria delas chega na autoescola e diz que tem medo de dirigir, mas, na triagem, percebemos que, muitas vezes, é somente insegurança ou falta de prática. Por isso, oferecemos avaliação gratuita com a psicóloga, que identifica se a mulher tem fobia ou se existe mesmo um trauma que precisa ser tratado. Muitas vezes, a própria instrutora consegue lidar com a situação”, conta Karla.
SUPERAÇÃO
No caso da turismóloga Caroline Engleitner, de 34 anos, o programa foi fundamental para vencer um trauma. Há alguns anos, ela perdeu os pais em um acidente de carro. Mesmo assim, ela passou no exame do Detran e conseguiu dirigir. Depois disso, Caroline passou um tempo fora do país, sem carro, e, quando retornou ao Brasil, começou a ter dificuldades com a direção. “Eu tinha sintomas como taquicardia, começava a suar frio, entrava em pânico. Às vezes, estava parada no trânsito e tinha vontade de largar o carro e sair correndo. Num momento, o medo começou a ser mais forte do que a vontade de dirigir. A partir daí, comecei a depender do meu marido ou de táxi”, explica.
Caroline conta, ainda, que a vida virou um tormento, porque não tinha liberdade e dependia de ajuda para ir a qualquer lugar. Foi quando ela decidiu que precisava mudar essa situação e encontrou o programa da Autoescola Ella. “Na avaliação, a psicóloga percebeu que eu realmente precisava de acompanhamento e esteve comigo em algumas aulas práticas. Ela conversava, me incentivava, me parabenizava e tudo isso foi muito importante. Minha evolução foi muito rápida, o que me surpreendeu. Agora eu tenho outra vida. Não dependo de ninguém pra fazer o que preciso”, comenta a turismóloga.
Além deste programa, a Ella também oferece às mulheres, gratuitamente, workshops para tratar do medo de dirigir. “Com isso, elas aprendem a identificar o que realmente sentem. Esses encontros são importantes para que todas possam conversar com especialistas e, entre si, trocar experiências e tirar dúvidas. Muitas conseguem superar a insegurança apenas nos workshops. E foi a partir das experiências delas que resolvemos desenvolver o programa”, comenta a coordenadora do projeto.
Os workshops acontecem a cada dois meses e são divulgados pelo site e pelas redes sociais. Os eventos são abertos ao público e visam explicar o que é o medo de dirigir, quais as técnicas que podem ajudar e quando o caso é considerado medo patológico e passível de tratamento, como os casos de fobia, ou apenas uma ansiedade ou insegurança.
Para Caroline Engleitner, as pessoas que têm medo realmente devem lutar para vencer, porque a independência é muito importante. “Quem não passa por isso dificilmente compreende. Muitas pessoas falavam para mim ‘mas dirigir é tão fácil, vai devagarinho que você consegue’. Ninguém consegue realmente entender como é ruim quando queremos vencer e não conseguimos. Mas, depois que isso passa, não tem como mensurar o prazer de dar a volta por cima. A autoestima muda e isso é uma vitória”, completa Caroline.