Quadro considerado grave já afetou cinco pessoas nos últimos 60 dias nos distritos administrativos de Aricanduva e Vila Formosa
A cidade de São Paulo registrou na última sexta-feira (23) um surto da doença meningocócica após notificar cinco casos de meningite meningocócica nos distritos administrativos de Aricanduva e Vila Formosa em menos de 90 dias.
A SMS (Secretaria Municipal de Saúde), por meio da Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde), esclareceu que os casos aconteceram no período de 16 de julho a 15 de setembro deste ano.
Em nota, a SMS justificou “que se considera surto da doença quando há ocorrência de três ou mais casos do mesmo sorogrupo em um período de 90 dias”.
A pasta ainda diz que realizou ações de prevenção e controle da doença, como a intensificação vacinal na região. Porém, os casos acendem um alerta para as características da meningite meningocócica, primeiros sinais e a melhor forma de prevenção, a vacinação.
Segundo o Ministério da Saúde, a meningite, em um geral, é considerada uma doença endêmica no Brasil. Isso significa que casos dela são esperados ao longo de todo o ano, com pequenos surtos e epidemias ocasionais – as bacterianas são comuns no outono-inverno e as virais na primavera-verão.
Entretanto, a doença é grave e merece a devida atenção, já que coloca a vida de crianças e adolescentes em risco.
A meningite é caracterizada por uma inflamação das meninges (presentes no cérebro e medula espinhal) causada por bactérias, vírus, fungos e parasitas, mas também pode se originar em processos inflamatórios, como o câncer (metástases para meninges), lúpus, reação a algumas drogas, traumatismo craniano e cirurgias cerebrais.
A meningite meningocócica, a mais frequente no quadro de DM (doença meningocócica), como explica a infectologista e diretora do Comitê de Imunização da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Rosana Richtmann, é causada por uma bactéria chamada meningococo. Há vários sorogrupos, mas o que causou o surto em São Paulo é o sorogrupo C.
“A doença meningocócica é sempre uma doença muito grave, 20% das pessoas, em média, morrem, ou seja, a cada dez, duas morrem. A cada cinco, como aconteceu em São Paulo, a previsão é de pelo menos uma morte”, alerta a infectologista.
E acrescenta: “É uma doença que se espalha, você começa os sintomas e em 24 horas já pode estar em um estado muito grave, ou seja, a progressão da doença é muito rápida – daí a importância enorme de pensarmos sempre na vacinação. Lembrando que o início do quadro pode começar com febre, vômito, dor de cabeça e, abruptamente, avançar para uma doença grave, podendo inclusive levar a meningite, ao coma e a morte”.
Outros sintomas da doença, de acordo com o manual MSD, são dor de cabeça, rigidez na nuca, náuseas, sensibilidade à luz e letargia (estado de profunda inconsciência). Com o passar do tempo, o paciente também pode ter convulsões, delírio e tremores.
O Ministério da Saúde ainda alerta que os bebês podem ter sinais mais sutis da meningite, como vômito, má alimentação, reflexos anormais ou irritabilidade.
Considerando a progressão da doença, a infectologista reforça a relevância dos casos de Aricanduva e Vila Formosa, pois apesar de parecerem poucos, a agressividade da doença exige classificação imediata de surto e medidas de bloqueio.
De forma geral, a transmissão ocorre de pessoa para pessoa, por meio das vias respiratórias – por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Há também a transmissão fecal-oral, pela ingestão da água e alimentos contaminados e/ou contato com fezes.
“Infelizmente, a gente sabe que pós-pandemia, após retirada do uso de máscaras, após as pessoas se reencontrando, o risco de voltar esse tipo de doença, de transmissão respiratória, aumenta”, explica Rosana.
As crianças, em especial, são o grupo de risco, principalmente as menores de um ano. Os adolescentes, por sua vez, são a faixa etária que mais transmite a bactéria.
Em caso de suspeita da doença, o paciente deve procurar urgentemente um pronto-socorro para avaliação médica e confirmação via exames, como o teste quimiocitológico do líquor (feito com a extração do líquido da região lombar).
Quando a pessoa recebe o diagnóstico, deve ser internada imediatamente para tratamento. Os mais comuns são o uso de antibioticoterapia, com remédios e dosagens terapêuticas prescritas pelo médico, e a reposição de líquidos.
A forma mais efetiva de prevenir a meningite meningocócica é a vacinação. O Ministério da Saúde disponibiliza gratuitamente a vacina contra diversos tipos de meningite, inclusive o C, aplicada entre os três e cinco meses de vida.
“Alta cobertura vacinal, além de proteger os imunizados, impede a circulação da bactéria, então mesmo os não vacinados acabam se beneficiando da imunização das crianças”, esclarece Rosana.
A infectologista ainda complementa que as pessoas que moram junto com o paciente podem tomar antibióticos para bloquear a doença. Os cuidados básicos e recorrentes também devem continuar, como a higiene das mãos, um ambiente arejado e a vacinação – a melhor arma contra a meningite.
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O imunizante completo contra a meningite, a vacina meningocócica ACWY, será ofertada temporariamente para adolescentes não vacinados de 11 a 14 anos. O calendário nacional de vacinação contempla, geralmente, a faixa etária de 11 a 12 anos, mas até junho de 2023 o grupo permanece estendido.
O imunizante pode ser tomado na UBS (Unidade Básica de Saúde) mais próxima ao bairro onde você mora, disponível na plataforma Busca Saúde, do município de São Paulo.
O Ministério da Saúde ainda coloca algumas observações aos pais e responsáveis em casos de suspeita da doença, sendo elas:
– Avisar a escola se a criança estiver com meningite confirmada;
– Após a alta, não há mais perigo de contaminação, portanto a criança não precisa ser excluída ou discriminada e pode frequentar a escola normalmente;
– Não há necessidade de fechar escolas ou creches quando ocorre um caso de meningite entre os alunos, professores ou funcionários, pois o meningococo (em caso de meningite meningocócica) não sobrevive no ar ou nos objetos;
– Não há necessidade de jogar fora objetos de uso pessoal do doente.
*Estagiária do R7 sob supervisão de Lucas Ferreira
Fonte: R7