É possível identificar a cybercondria como um problema contemporâneo, advindo do uso errado de informações especializadas, presentes na internet. Na prática, o problema corresponde à hipocondria potencializada pela tecnologia, e pelas características da vida no século XXI. Ou seja, um distúrbio psiquiátrico reconhecido, amplificado pela falta de critério na interação com o mundo virtual somada à condição de isolamento, em que muitas pessoas se acostumaram a viver. Aliando-se à prática irresponsável da automedicação, a cybercondria representa risco real para o indivíduo acometido pelo distúrbio, e para seus familiares, muitas vezes crianças e idosos.
Os hipocondríacos da era digital resolvem estabelecer diagnósticos de forma onipotente. Fazem buscas pela internet e baseiam-se em sintomas, relatos do mundo virtual, informações em exames realizados em momentos diferentes, e experimentação de remédios, para determinar as suas doenças. A pessoa acredita que esta é uma maneira eficiente para solucionar problemas de saúde, e deixa de procurar a ajuda especializada dos médicos. Alguns cybercondríacos vão ao consultório levando o seu diagnóstico definido, e exigem um tratamento avançado para o problema que acreditam ter. E não é raro esses pacientes se recusarem a passar pela avaliação do médico.
Diagnósticos estabelecidos por informações à distância, indicação de ex-pacientes ou amigos, são extremamente arriscados. Evidentemente, o fato de a internet oferecer um conjunto de informações sobre inúmeras doenças – que até podem ter sintomas similares aos que a pessoa sente ou acredita sentir – não pode ser admitido como suficiente para substituir uma criteriosa avaliação médica. E isso, porque a partir de uma análise errada, um mal-estar simples, pode ser interpretado como doença grave.
Apesar de representar perigosa mania nacional, a automedicação é desaconselhável. Ao submeter-se à medicação sem prescrição médica, o indivíduo corre risco de intoxicar-se, ocultar a existência de outro problema não diagnosticado, ou até desencadear doenças de base emocional, como transtorno de ansiedade, síndrome do pânico e depressão.
Tentar classificar doenças apenas por um ou mais sintomas é um grave erro. O mesmo sintoma pode indicar quadros distintos, e que exigem tratamentos diferentes. Portanto, é indispensável que um profissional médico faça a análise do indivíduo, avalie o seu histórico clínico, a sua condição geral e emocional, exames físicos e laboratoriais, entre outros, exigidos conforme a especialidade médica necessária para o tratamento. E tão importante quanto ter acesso ao diagnóstico correto feito pelo médico especialista, é o paciente aceitar o diagnóstico e seguir as orientações indicadas para a sua recuperação.
José Toufic Thomé, médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, é Psiquiatra e Psicoterapeuta Psicodinâmico especialista em situações de crises e transtornos da contemporaneidade, Presidente da Unidade Brasil da Rede Ibero-Americana de Ecobioética – Cátedra UNESCO de Bioética e Presidente da Secção Psiquiatria Crises e Desastres da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA na sigla em inglês).