É bastante comum ver jovens demonstrarem talento cedo para algum esporte específico, seja por encorajamento dos pais ou interesse do próprio adolescente. E, em épocas de jogos Panamericanos e Olímpicos, este estímulo a um esporte é ainda mais encorajado pelos familiares.
O problema é que pouco se sabe sobre o risco de lesões decorrentes da prática intensa de um único esporte e sobre como esse risco pode aumentar no período de crescimento.
Neste ano o American Journal of Sports Medicine publicou um estudo desenvolvido com atletas de 7 a 18 anos, o primeiro a colher dados específicos sobre o assunto. Ele revelou que os atletas lesionados tendiam a ser os mais velhos do grupo. Os atletas que apresentaram lesões também tendiam a dedicar mais horas por semana em esportes específicos.
Segundo Fabiano Sandrini, endocrinologista do Laboratório Frischmann Aisengart, o rápido crescimento típico da adolescência, somado a uma rotina de treinos muito intensa, pode mesmo aumentar os riscos de lesão: “O estudo é novo e sugere que crianças e adolescentes sejam mais vulneráveis a lesões durante os estirões de crescimento. Isso traz uma nova maneira de enxergar o jovem e como ele deve ser direcionado em esportes de alto rendimento”, afirma.
Praticar esporte é saudável, mas o estudo abre uma discussão sobre quais limites podem ser impostos aos treinos para que eles não causem problemas aos jovens atletas. No Brasil é comum, por exemplo, que crianças e pré-adolescentes frequentem escolinhas de futebol. Com as “peneiras” para jovens atletas e oportunidade para ingressar no futebol profissional, a rotina de treino acaba sendo intensa. O médico alerta: “é importante o acompanhamento de profissionais habilitados muito próximos e atentos quando jovens são submetidos a rotinas de treino muito intensas”, explica.
As lesões mais comuns em jogadores profissionais são as ligamentares nos joelhos (do ligamento colateral medial e meniscos) e torções. No caso dos adolescentes, este tipo de problema pode se tornar mais delicado. “Durante a fase de crescimento os ossos estão em fase de mineralização, que pode ser afetada no caso de práticas esportivas muito extenuantes”, comenta Sandrini. E complementa: “é preciso acompanhamento também para evitar que surjam lesões na cartilagem de crescimento”.
No entanto, a atividade física regular durante a infância e a adolescência pode trazer benefícios, como prevenir obesidade e suas complicações, melhorar a autoestima e estimular uma boa qualidade do desenvolvimento e composição óssea: “desde que realizado de maneira correta, o treinamento de força com impacto de esportes de alto rendimento pode incrementar a densidade mineral óssea de jovens”, afirma Sandrini.