Brasil pode ganhar espaço no comércio global com nova ofensiva tarifária dos EUA contra a China

Com a escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, impulsionada pelas recentes taxações impostas, o Brasil pode estar diante de uma oportunidade única para ampliar sua presença no comércio internacional. Essa é a análise de especialistas que observam com atenção as movimentações do mercado global.

As tarifas diferenciadas impostas por Trump à China — que chegaram a ultrapassar 100% em alguns produtos — podem alterar profundamente os fluxos comerciais globais. A depender da continuidade dessas medidas, o impacto será sentido em diversos setores e, de forma indireta, pode abrir espaço tanto para o Brasil quanto para outros países emergentes.

“Independentemente se essa taxação comercial será benéfica aos Estados Unidos, esse aumento de taxação para a China cria brechas importantes para o Brasil”, afirmou o gerente de Negócios Internacionais do Sebrae Rio, Maurício Chacur.

A observação se refere principalmente à indústria agropecuária, que pode ganhar enorme protagonismo ao suprir as demandas alimentares da China, um país com forte preocupação com segurança alimentar e que possui uma das maiores populações do mundo.

Com a relação comercial entre EUA e China fragilizada, a expectativa é de que a China redirecione sua demanda ao Brasil, principalmente no setor de alimentos. “O Brasil pode atender de forma relativamente rápida e com qualidade”, destaca o gerente.

Além disso, o Brasil também pode aumentar suas exportações para os Estados Unidos, ocupando o espaço deixado por produtos chineses que perderão competitividade em razão das tarifas.

Produtos de consumo como calçados, roupas, alimentos, bijuterias, embalagens, dentre outros, são itens com os quais o Brasil pode entrar com força no mercado americano.

Maurício Chacur, gerente de Negócios Internacionais do Sebrae Rio.

No entanto, o cenário não é isento de riscos. A indústria chinesa, conhecida por seu alto volume de produção e preços agressivos, pode passar a inundar mercados alternativos — incluindo o Brasil — com produtos que antes tinham os EUA como destino. Isso impõe um desafio adicional para empresas nacionais que precisam estar preparadas para concorrer em preço e qualidade também no mercado interno.

Para enfrentar esses desafios e aproveitar as oportunidades, a preparação das empresas brasileiras é essencial. Segundo o Sebrae, exportar exige mais do que apenas vontade: é preciso investir em capacitação, entender de logística, buscar certificações e planejar estrategicamente a entrada em mercados internacionais.

O Sebrae oferece uma série de programas que ajudam desde a formação de preço até o estudo de mercado. Exportar exige planejamento, mas é possível e vantajoso. Empresas que exportam aumentam a produtividade, gerenciam melhor riscos e ganham em competitividade”, explica Maurício Chacur.

A volatilidade do cenário político norte-americano exige cautela. Ainda assim, a tendência é de manutenção das tarifas mais agressivas contra a China, o que reforça a leitura de que o Brasil pode se consolidar como fornecedor alternativo para os Estados Unidos.

“Existe uma grande oportunidade no médio prazo. Mas é preciso se preparar para não se ‘queimar’, ter uma experiência ruim e ser forçado a sair do mercado em seguida. Os EUA são vários mercados em um só — vender para Miami é diferente de vender para Nova York ou Califórnia. Então, planejamento é tudo”, conclui Chacur.

Setores como alimentos, calçados, vestuário, acessórios, cosméticos e até o de serviços estão entre os que podem se beneficiar, desde que preparados para atuar no competitivo — e agora mais receptivo — mercado internacional.

Imagem Agência Sebrae