Mulheres do esporte refletem sobre seu papel e realidade no 8 de março

“Ser mulher no esporte é ser resistência”, defende Carol Gattaz; veja depoimentos de outras mulheres que rompem barreiras esportivas

“Ser mulher no esporte, com certeza, é ser resistência”, assim define Carol Gattaz, medalhista olímpica e capitã da equipe atual campeã da Superliga, o principal campeonato nacional do voleibol. No 8 de março, Dia Internacional da Mulher, ouvimos mulheres que vivem do esporte enquanto vivem a experiência de serem mulheres em um mundo que ainda tem muito a evoluir em questão de igualdade.

No tradicional clube da Rua da Bahia desde 2014, a capitã Carol Gattaz se tornou uma das principais atletas que já vestiram a camisa azul e branca minastenista. Dentro de quadra, a experiente central é líder e referência para as companheiras. Fora dela, espelho para milhares de outras mulheres que querem seguir ganhando espaço no ambiente esportivo.

“É ser garra, ser fortaleza. Com certeza, nós mulheres temos conquistado nosso espaço nos últimos anos, e com certeza ele já está bem maior. Nós lutamos muito, e por isso que a mulher é sempre essa força, essa luta. A mulher é de fibra. Não só no esporte, mas em todas as áreas da vida temos que lutar pelo nosso espaço em relação aos homens, e acredito que estamos conseguindo cada dia mais”, afirmou.

Sabendo da importância de ser referência, Gattaz garante que quando mais mulheres estiverem em locais de relevância dentro do esporte, mais outras conseguirão acreditar que também poderão alcançar seus objetivos. “A gente espera que mais e mais mulheres conquistem espaços para que todas as outras acreditem que podemos tudo que a gente quiser”, concluiu.

Bem próximas às atletas, outras mulheres ocupam uma posição de igual importância no esporte, mas de visibilidade muito menor. Na arbitragem, área também majoritariamente masculina, mulheres de destaque relatam desigualdade. Débora Santos, árbitra de vôlei há mais de 25 anos, acredita que ainda há muito para alcançar. “Todo Dia Internacional da Mulher a gente acaba, inconscientemente, fazendo uma reflexão sobre o que mudou ano após ano. Na minha função de árbitro, eu infelizmente tenho visto um retrocesso. A gente tenta abrir um caminho, perseverar, ser resiliente e mostrar que é um campo em que a mulher tem total capacidade de atuar, se desenvolver e evoluir. A gente, como sociedade, gera uma disputa entre o homem e a mulher que não deveria acontecer. A mulher ocupar o mesmo espaço que o homem deveria ser natural”, defendeu Débora.

Mesmo em um esporte como o voleibol, que já realizou avanços relevantes em questão de igualdade entre os dois naipes, Débora acredita que ainda há muito que alcançar. “Em relação ao vôlei em si, se você avaliar, nós temos pouquíssimas técnicas, pouquíssimas auxiliares, pouquíssimas fisioterapeutas. Deveríamos assumir todos os dias a importância do nosso papel na sociedade e nos superarmos todos os dias para mostrar que conseguimos estar em pé de igualdade, sem querer sermos iguais”, defendeu.

No futebol, esporte que até o início dos anos 80 era proibido para mulheres, a realidade também é difícil para aquelas que ousam estar lá. E se dentro dos campos ainda há muitos obstáculos, quem dirá na beirada das quatro linhas. Treinadora das categorias de base femininas do Galo, Bárbara Bepler acredita que sua presença vai muito além do trabalho de formação de novas atletas.

“Meu papel principal, além de, obviamente, formar as meninas de maneira integral com relação ao futebol e enquanto pessoas, é ser um espelho para essas meninas. É dar uma opção para elas dentro do futebol, para elas poderem se ver e acreditar que também podem estar lá. Isso em relação tanto a meninas que querem ser treinadoras no futuro quanto no desenvolvimento do futebol feminino de uma maneira geral. Hoje elas veem mais atletas, podem assistir na televisão e se inspirar. Essa é toda a questão da representatividade”, afirma Bárbara.

O decreto-lei 3.199, do dia 14 de abril de 1941, proibiu que mulheres praticassem o futebol no país, proibição que se sustentou por quase 40 anos. Por décadas, não havia possibilidade, para as mulheres, de ocupar quaisquer cargos dentro do esporte mais popular do Brasil. “O cargo que ocupo hoje não era uma possibilidade para as mulheres durante muitos anos. Jogar futebol não era possibilidade para as mulheres durante muitos anos. Hoje, essas meninas fazem algo que já foi proibido no Brasil em um determinado momento, e isso é de uma importância vital para a transformação da sociedadee. Mulheres exercerem o que quiserem, estar nos lugares que quiserem, e ocupar esses espaços cada vez mais. Eu acredito muito nessa base que está vindo, que, por exemplo, ficará em evidência quando essas meninas estiverem no profissional. É uma transformação geral”, defendeu a comandante das Vingadoras.

No Dia Internacional da Mulher, refletir sobre os espaços que as mulheres ocupam no ambiente esportivo pode permitir enxergar o esporte para muito além. O esporte pode ser uma ferramenta de mudança. “Que o esporte se torne uma ferramenta de empoderamento das mulheres, Que por meio desses espelhos, que as meninas comecem a se enxergar dentro da própria modalidade, na televisão, nas jornalistas, narradoras, fisioterapeutas, auxiliares técnicas e muito mais. Que elas comecem a se sentir representadas e, também, acreditem na transformação dessas mulheres por meio do esporte”, concluiu Bárbara.